O Comitê da Cidadania, contra a fome, a miséria e pela vida possui cerca de 45 grupos divididos em mais de 20 bairros do município atuando para melhorar a vida de famílias pobres. Os grupos formados em sua maioria por mulheres se reúnem toda a semana para fazer artesanato e ajudar o próximo. As arrecadações feitas diariamente pelo ônibus do Comitê são levadas até os bairros e entregues para um coordenador de grupo responsável pela distribuição dos alimentos, retalhos de tecidos e outras doações. Cerca de 1,5 mil pessoas são abastecidas por estas doações toda semana.
O vice-presidente do Comitê da Cidadania, Orlei Borges, disse que os grupos recebem farinha de milho, feijão, ovos, verdura, além de roupas e retalhos de tecidos para a confecção de artesanato. Tudo provém das arrecadações feitas nos supermercados, fruteiras e restaurantes da cidade através do ônibus do Comitê e seus voluntários. “Arrecadamos as doações e levamos para estes grupos que fazem a divisão”, explicou Borges.
As mulheres também se reúnem durante a semana para produzirem artesanato como tapetes, cobertores e pintura em tecido, vidro e potes. Tudo é feito com os retalhos que sobram de malharias. “Tudo que a população não aproveita, nós aproveitamos”, disse o vice-presidente do Comitê.
Bairros atendidos
A partir das 8h30, o ônibus do Comitê arrecada doações no comércio e depois entrega nas casas dos coordenadores de grupos que fazem a divisão dos donativos.
Segunda-feira: São Luiz Gonzaga, Parque Farroupilha, Petrópolis, São José e Victor Issler.
Terça-feira: Vila Jardim, Jardim América e Vila Luiza.
Quarta-feira: Donária e Santa Marta.
Quinta-feira: Ipiranga, Xangrilá, Jaboticabal e São Miguel.
Sexta-feira: São Bento, Valinhos, Hípica e José Alexandre Zachia.
Sábado: Santo Antonio, Bom Jesus, Tupinambá e Ricci.
“Não vejo a hora de chegar o dia de reunião do grupo. Me sinto super feliz”
A coordenadora de um dos grupos do Comitê da Cidadania no bairro Jardim América, Gessi Teresinha Barbosa, de 44 anos, disse que cerca de oito mulheres se reúne toda a semana na casa dela para fazer crochê, tapete, colcha e pintura em tecido. Ela está no grupo há 15 anos e não pensa em sair tão cedo. “A minha vida mudou muito depois que passei a trabalhar no grupo. É um compromisso e tenho amor pelo trabalho”, disse Gessi.
O artesanato também é uma fonte de renda para estas famílias. “As pessoas vem buscar frutas, comida e roupas. O artesanato ajuda na renda. As mulheres vendem em troca de dinheiro para comida”, disse a coordenadora.
Ela aprendeu a fazer artesanato através do Comitê da Cidadania e atualmente também serve como um remédio. “Tive depressão profunda. Quando estou nervosa faço tricô e não fico pensando bobagem”, revelou Gessi.
“Fazer artesanato é a minha cura”
Os retalhos que para muitos não têm mais utilidade são transformados em arte pelas mãos de dona Neli Vidal Birk, de 57 anos. Há 15 anos, a dona de casa descobriu o Comitê da Cidadania e ali uma forma de ajudar na renda da família. Neli teve depressão e o artesanato para ela foi uma forma de cura. “Se tô nervosa começo a trabalhar e passa. Faço tudo com muito amor e carinho”, disse a artesã.
Os tapetes coloridos é uma das marcas registradas da artesã. Os cerca de R$ 250,00 que ela ganha com a venda dos trabalhos são utilizados para a compra dos remédios. “É um dinheirinho que ajuda muito”, disse Neli.
“A pobreza existe é só visitar os bairros”
As duas semanas em que o ônibus do Comitê da Cidadania ficou estragado foi um sofrimento para dona Olívia Lino de Jesus, de 72 anos. Ela coordena os trabalhos do comitê na vila Donária e sustenta a casa. Quando o ônibus não passa nos bairros por algum motivo, estas famílias sentem muito. Muitas pessoas passam a semana toda esperando pela comida. Dona Olívia reclamava que o pão tinha acabado e que não havia mais farinha. Um restinho de feijão na panela era o que restava. Há 17 anos ela participa do Comitê e disse que a pobreza ainda não foi erradicada. “A pobreza existe é só visitar os bairros”.
A realidade da dona Olívia é ainda mais sofrida quando ela disse que sua casa pegou fogo há dois anos e teve que reconstruir tudo. A maior parte dos móveis foi doação arrecadada no Comitê da Cidadania. “O Comitê é responsável pelo meu conforto, pela minha roupa e pela minha alegria”, declarou.
“É muito lindo este trabalho do Comitê”
A coordenadora do grupo localizado no bairro São Bento, Cecília Silveira Schelleder, de 68 anos, também é uma artesã de mão cheia. Os retalhos e as linhas que chegam logo se transformam em lindos tapetes, almofadas e objetos de decoração. A embalagem de ração vira um assento de cadeira trançado. Tudo é reaproveitado. “Gosto de fazer artesanato. Aprendi no comitê”, disse Cecília que atua no Comitê há 16 anos.
A casa dela é ponto de referência. Dona Ironi Portela, de 60 anos, é uma das mulheres integrantes do grupo. Há cinco anos é frequentadora assídua da casa de dona Cecília. “É muito bom participar e fazer artesanato. Me sinto melhor fazendo alguma coisa”, disse Ironi.
Precisa-se de doações:
A coordenadora do grupo do bairro Jardim América disse que eles estão precisando de uma máquina de costura para auxiliar nos trabalhos do grupo. Cama de solteiro, colchões e roupas para bebês também estão entre as necessidades do grupo do bairro São Bento. Interessados em ajudar podem levar estas e outras doações para a sede do Comitê da Cidadania localizado nos fundos da Biblioteca Municipal, na rua Moron. Informações pelo telefone (54) 3311-1038.
Comitê da Cidadania
Em julho deste ano, o Comitê da Cidadania completará 18 anos. O local também é conhecido como Galpão da Dona Luiza. O Comitê trabalha em prol da comunidade carente seguindo a ideia do Herbert de Souza (Betinho), criador do movimento social: "Comida para quem tem fome". Dona Heloisa Helena é uma das idealizadoras do Comitê e é a atual presidente. Orlei Borges é o vice-presidente.