"Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros".
No ano que é lembrado 110º aniversário de nascimento de George Orwel, pseudônimo adotado por Eric Arthur Blair, é oportuno que se façam ao menos algumas reflexões. Nascido em 25 de junho de 1903, em Bengala, filho de pai inglês e mãe de descendência francesa, o jovem Eric conhece de perto os efeitos da dominação britânica. Ao ingressar na polícia imperial, segue os passos do pai, funcionário civil da marinha, lotado no departamento de controle do ópio. O (des)serviço militar prestado por cinco anos, na Índia e Birmânia, é interrompido com a deserção e a revolta contra o imperialismo.
Além de renegar o nome, George Orwel abdica de sua origem e herança. Será como operário em Paris, e posteriormente professor em Londres, no entre guerras, que o jovem escritor irá conhecer a falta de liberdade e a pobreza dos operários. Sem titubear, participa da Guerra Civil Espanhola, na trincheira dos republicanos. Na luta contra o fascismo pelas ruas de Barcelona, sofre ao lado dos anarquistas perseguições dos comunistas, que supostamente tinham como adversários os soldados de Franco. A experiência na terra de Cervantes será descrito no livro Lutando na Espanha. A obra inaugura um estilo, que terá como principal característica a denúncia das injustiças.
Socialista por convicção, Orwel não compactua com a rigidez dos partidos comunistas servis à Moscou. Nem mesmo a posição do mandatário soviético de lutar contra o nazismo e o fascismo na 2ª Guerra Mundial, demove o escritor da postura contrária ao centralismo político de Stalin, e a brutalidade empregada contra aqueles que ousam lhe contrariarem. A Revolução dos Bichos antecipou o que seria revelado ao mundo durante o XX Congresso do P.C.U.S. em 1956, por Kruschef. A revolta dos animais de uma fazenda, que se levantam contra a tirania dos homens é o pano de fundo desta obra. Ao invés da liberdade prometida, um novo sistema opressor, com os porcos no alto da pirâmide, se impõe.
Para os que têm mais de 50 anos, e que descobriram o prazer da leitura, e também as mazelas do autoritarismo do Estado brasileiro pós 1964, a fábula de George Orwel foi vista como ácida crítica a União Soviética e ao socialismo. A redemocratização na América Latina na década de oitenta do século passado e a queda do muro de Berlim ao final desta, foi o prenúncio do fim da guerra-fria. A tirania se revela ao mundo de forma cruel: o terrorismo de um lado, e a prepotência de outro. Para os "donos" do planeta, o 11 de setembro foi o pretexto para novas e cruéis investidas.
Se vivo estivesse, não faltaria a Orwel inspiração para continuar sua obra. Resta saber se nestes tempos de apatia e indiferença haveria leitores interessados nos seus escritos. Se por ventura alguém tenha chego ao fim deste texto, fica a sugestão: vá até a biblioteca e peça A Revolução dos Bichos. Se não encontrar, peça pelo 1984.
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