No fim de semana aconteceu a Festa de Navegantes na comunidade de Sede Independência, local também conhecido como Taquari A programação teve como ponto alto a procissão fluvial, quando a imagem da santa foi transportada em uma balsa. A Festa de Navegantes é o principal evento do local e movimenta boa parte da comunidade.
O engajamento voluntário é grande e cada qual sabe qual tarefa abraçar. É uma rotina anual, que vai da preparação da balsa à elaboração dos almoços. Sim, no plural. Teve almoço no sábado e também no domingo. E, é claro, o ato litúrgico na missa que antecedeu o passeio da santa que protege aqueles que viajam pelas águas.
Balsas no Taquarí
A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes saiu da igreja e foi transportada por uma caminhonete até à margem do rio. No pequeno trecho o cortejo entoou cânticos religiosos, enquanto as rezas foram lideradas pelo padre Rudimar Mascarello. Nos últimos anos, atendendo exigências de segurança, para entrar no cortejo pluvial é necessário usar colete salva-vidas. Assim, poucas pessoas ocuparam as duas balsas enfeitadas, além de um bote dos Bombeiros.
A procissão seguiu pelo rio. Ao mesmo tempo um grande número de devotos seguiu por terra, a partir da chácara de Edu “Boka” Wentz, acompanharam pela margem até a ponte da RS-324. Na primeira balsa a imagem de Navegantes e na segunda os músicos. Por água ou por terra, muitas demonstrações de carinho. Não faltaram crianças de vestidas de anjos acenando ao passar do andor, enquanto as rosas caiam sobre o leito do Taquari.
Fé e tradição
A devoção por Nossa Senhora dos Navegantes vem de longe e há muito. Veio de Portugal, associada às navegações do século XV. A fé representa a proteção de Maria para aqueles que viajavam pelo mar regressarem para casa. No Brasil, especialmente no litoral, o culto se divide. Enquanto as religiões afro-brasileiras cultuam Iemanjá, os católicos festejam Nossa Senhora dos Navegantes. Uma das maiores manifestações é a procissão fluvial de Porto Alegre, colonizada pelos açorianos.
É difícil precisar desde quando é realizada a procissão de Navegantes em Sede Independência. Nelson Brocco, 70 anos, garante “desde que me conheço por gente tem a procissão”. Mas certamente ocorre há mais de setenta anos. Marcelino Pasini, que completa 80 no próximo mês, recorda que “sempre teve a procissão aqui”. Então podemos interpretar que o ato religioso no Taquarí acontece há no mínimo oitenta anos.
Dedicação comunitária
Aproveitando a ocasião teve a bênção da garganta, pois sábado era dia de São Brás, “protetor dos males da garganta”, segundo o padre Rudimar. Os devotos mais fervorosos subiram ao altar para tocar na imagem de Navegantes. Outros receberam uma fitinha de lembrança e proteção.
Depois da missa e da procissão começou a festa de fato. A preparação do almoço envolveu quase 80 pessoas, segundo Ivone Terezinha Dóro, que comandava a venda de maionese, cuca, pudim e bolo. “Com o dinheiro vamos terminar as obras do salão paroquial”, explicou com orgulho. A chuva que regou as lavouras no sábado animou o pessoal, prenúncio de boa arrecadação.
E, literamente, foi uma festa de igreja. Nas imensas churrasqueiras, assaram quase uma tonelada de carne, de acordo com Nelson Brocco, outro incansável voluntário da comunidade. No salão, já com um novo piso para orgulho de Ivone, foram distribuídas mesas para servir o almoço. Mas a maioria comprou a carne e os complementos e levou para casa. Ah, é claro, depois de um tempinho para a digestão abriram a gaita e reunião-dançante. Era festa, e das boas.
Berço político
Sede Independência é separada pelo Rio Taquarí. De um lado Passo Fundo, de outro Marau. O prefeito de Marau, Josué Longo, é nascido em Sede Independência. “A divisa é apenas uma divisa e não importa o lado, hoje melhorou muito aqui”, disse o jovem prefeito que todos os anos participa da festa. Com orgulho, Josué lembra que “a comunidade é berço de grandes políticos, como Francisco Sérgio Turra e Beto Albuquerque”. Certamente, todos com a proteção de Nossa Senhora de Navegantes.
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