Mulheres que fazem a diferença

Grupos de mulheres da Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo completam 30 anos de atividades

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Há três décadas, a Cáritas Arquidiocesana atua para fortalecer e incentivar o processo de organização dos grupos de mulheres. Atualmente, 40 grupos estão formados em Passo Fundo e na região de abrangência da Arquidiocese. O grupo pioneiro que recebeu o apoio da Cáritas foi o “União e Amizade”, das mulheres do bairro Bom Jesus. Tudo começou com os tanques comunitários conquistados por elas em 1983. Muito mais que lavar roupa, as mulheres começaram a se unir para reivindicar políticas públicas em defesa do público feminino. 

O trabalho da Cáritas nestes grupos é incentivar atividades que visam a participação e a inserção da mulher de forma efetiva na sociedade, no trabalho e na política, através de capacitação profissional. O objetivo é fazer com que elas superem o assistencialismo e construam sua renda e posição na sociedade.

Conforme o coordenador da Cáritas Diocesana de Passo Fundo, Luiz Costella, tudo começou na década de 1980, no bairro Bom Jesus. Naquela época não existia água encanada e as mulheres lavavam a roupa em um riacho. Em 1983, uma bica de água foi instalada pela prefeitura no local. A Cáritas em parceria com outras entidades propiciaram a construção de oito tanques comunitários cobertos para as mulheres lavarem a roupa. “Este foi o primeiro grupo de mulheres que a Cáritas organizou. Foi o marco que deu início as atividades da entidade com grupos de mulheres”, lembrou Costella.

A partir desta organização surgiram outras iniciativas como os grupos de mães. Em 1985, o trabalho com mulheres na periferia de Passo Fundo é intensificado e nove grupos passaram a ser acompanhados pela Cáritas.

Conforme a assessora de projetos e coordenadora dos grupos de mulheres da Cáritas, Odete Kuhs Silveira, as mulheres foram se organizando nos bairros, aprendendo a fazer artesanato, panificação, até surgirem os grupos de mulheres como são conhecidos hoje. “Os grupos se reúnem uma vez por semana e confeccionam artesanato para vender. Cada grupo tem sua coordenadora, regras e objetivos. Os encontros acontecem nas igrejas da sua comunidade”, explicou Odete.

Entre os temas abordados nos grupos estão informações sobre saúde, meio ambiente, combate e prevenção de estresse, combate à violência, política de assistência, alimentação saudável, autoestima, entre outros. A Cáritas também apoia projetos de geração e complementação de renda. “Muitas vezes, as mulheres que moram na periferia não têm perspectivas de vida. O grupo tenta mostrar o potencial delas. Elas são muito criativas. Queremos que elas sejam agentes de transformação social. As mulheres da Cáritas ajudaram na luta pela vinda da delegacia da mulher, da casa de apoio a mulheres vítimas de violência e do conselho da mulher”, disse a assessora de projetos da Cáritas.

A cada dois anos é realizado um encontro para reunir as experiências destas mulheres e comemorar o Dia Internacional da Mulher. O XI Encontro Arquidiocesano de Mulheres será realizado na Paróquia São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, no dia 09 de março. O tema desta edição é “A missão da Mulher Cáritas: na sociedade, na família, na Igreja e com a Juventude” e deve reunir cerca de 400 participantes.

Uma vez por mês as mulheres cadastradas no grupo e que participam dos encontros recebem doações como alimentos, roupas e calçados. O acompanhamento da Cáritas aos grupos é importante para o fortalecimento dos mesmos. Os grupos proporcionam às mulheres momentos de convivência, troca de experiências, valorização pessoal e o resgate da autoestima. “Aprendo muito com estas mulheres. O amor e o carinho que vem delas não tem preço que pague. Trabalhei anos dentro de um escritório e depois que comecei a trabalhar com estas mulheres a minha vida mudou. É maravilhoso trabalhar com o ser humano”, declarou a assessora de projetos da Cáritas.

Recordando a época dos tanques

Dona Adair Teresinha Rigel da Silva, de 60 anos é moradora do bairro Bom Jesus e relembrou a época dos tanques. Na época só passava carroças no bairro e as ruas eram estradas de chão. Lavar roupa nos tanques comunitários localizados na rua Pedro Verardi era uma das rotinas dela. “Eu tinha uns 18 anos e vinha lavar as roupas. Tinha um coberto e os tanques eram separados. Toda comunidade vinha lavar as roupas aqui, porque não tinha água encanada em casa”, recordou Adair.

“O grupo me traz muitas alegrias”

Albina da Luz Pereira, de 67 anos, é coordenadora do grupo de mulheres do bairro Santo Antonio da Pedreira. Atua no grupo há 30 anos. Todas as quintas-feiras as mulheres se reúnem para fazer artesanato com garrafas pet, caixinhas de leite, pintura em tecido e crochê. “Vendemos nas feiras e ajuda na renda. Estou viúva há 17 anos e criei meus cinco filhos e cuidei do meu marido que era doente”, disse Albina.

A coordenadora do grupo disse que os problemas de saúde que ela tem não impedem que o trabalho continue firme. “Tenho desgaste no joelho e uma veia do coração dilatada, mas não vou parar nunca. Participar me traz muita alegria e não fico pensando bobagem. Tomamos um chimarrão, contamos causos e o tempo passa que a gente nem vê”, declarou a coordenadora do grupo do bairro Santo Antonio. 

“Muitas roupas, calçados e comida vieram da ajuda da Cáritas”
Maria Ereni está atuando no grupo de mulheres do bairro Valinhos há mais de 10 anos. “Era pobre e tinha sete filhos para criar. Um deles já faleceu. Emendava os pedaços para arrumar as roupas. Aprendi a fazer artesanato, pão e cheguei a pagar um curso com o dinheiro das vendas”, lembrou Maria.

Hoje a vida dela mudou e a renda também. A integrante do grupo disse que uma das grandes conquistas foram as amizades. “Hoje em dia ninguém tem mais tempo para visitar os vizinhos. As amizades que fiz aqui são eternas. São trocas de experiências que valem ouro”, enfatizou Maria.

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