Religiosidade brasileira vira enredo na Acadêmicos do Chalaça

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Maracatu, congadas, festa do divino, umbanda, romarias. O sincretismo religioso e rítmico que formam a identidade do povo brasileiro, de norte a sul do país, serão levados para Avenida Sete de Setembro, no desfile da Sociedade, Esportiva, Recreativa e Cultural Acadêmicos do Chalaça, no próximo sábado. 

Com o tema “Um canto de fé em azul e branco no Brasil de todos os santos” a estreante no grupo especial quer surpreender público e jurados misturando religião e samba. Para brigar pelo título, a direção não mediu esforços. Os preparativos iniciaram ainda em maio do ano passado, com a coordenação do carnavalesco Ramon Gandez da Silva. Cada setor da escola foi planejado com muita antecedência. Enquanto fala sobre os preparativos, o presidente da agremiação, Felipe Machado, faz uma pausa. Ele tira o aparelho celular do bolso e, orgulhoso, apresenta o samba-enredo, composto e gravado, em junho passado, no Rio de Janeiro, por vozes de escolas tradicionais como Salgueiro e União da Ilha do Governador. “Percebe que tem uma batida diferente, é bem pra cima” comenta.

A parceria não ficou restrito aos cariocas. Da escola Tom Maior, em São Paulo, vieram esculturas para os carros alegóricos. Uma surpresa que o presidente faz questão de revelar somente na avenida. “Não fotografa o carro” solicita à reportagem. A direção também fechou parcerias com escolas de Uruguaiana, Porto Alegre e Gravataí, de onde virão algumas alas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, além da porta-estandarte. A responsabilidade de interpretar o samba será do experiente, Luiz André Borges, integrante da Imperatriz da Zona Norte, de Cruz Alta.

“Quando iniciamos no grupo de acesso, no ano passado, falávamos que no ano seguinte iríamos brigar pelo título. Estamos cumprindo nossa palavra. A escola vai brilhar na Avenida” garante o presidente. Para contar um pouco das festas religiosas no Brasil, a Chalaça terá 400 integrantes, divididos em 20 alas e quatro carros alegóricos. Apesar de ter a vila Operária como referência, local onde acontecem os ensaios da bateria, a escola agrega integrantes, principalmente da vila Cruzeiro e Cohab. De acordo com Machado, 90% das fantasias já estão prontas. Entre hoje e amanhã, o trabalho será focado na montagem dos carros alegóricos.

Acampamento do samba
Pelo menos 25 pessoas se revezam na confecção das alegorias, durante o dia e a noite, no barracão alugado pela escola, próximo ao Parque da Gare. Para agilizar o trabalho e evitar os deslocamentos até o bairro José Alexandre Zachia, a jovem Juviane dos Santos Castanho, 25 anos, decidiu acampar com a família dentro do pavilhão. Três barracas armadas há 15 dias no local, abrigam ela, o filho, de apenas seis meses, além de irmãos, cunhado e o sobrinho. “Assim fica mais fácil, não precisamos ir até ao Zachia todo dia” conta a jovem, que desfila desde os cinco anos. As refeições são feitas em numa cozinha improvisada, entre adereços e alegorias. Sem remuneração pelo trabalho, Juviane diz que a paixão pelo carnaval compensa tanta dedicação.

Em seu primeiro desfile pela Chalaça, a jovem será coordenadora de ala, e estará acompanhada do pequeno Theylor Wesley dos Santos Castanho. “No ano passado desfilei por outra escola. Levei meu filho na barriga. Este ano, vai novamente, mas no colo” brinca.

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