Alheios às serpentinas que, nas ruas ou nos salões, se confundem nos passos daqueles que optaram pela festa do Carnaval, alguns jovens trilham o caminho contrário. Ao invés de um som alto, a tranquilidade de uma noite com amigos. No lugar da bebida e do ilimitado, palestras, interação e reflexão. Ainda assim, para eles, é festa e, então, o Carnaval não precisa, nem mesmo, do tradicional samba.
Cláudia Tainá tem 19 anos, participa de um grupo de jovens da Igreja Católica – CLJ – junto com o namorado Guilherme. Apesar de ainda não ter planos para o feriadão, o casal tem apenas uma certeza: “não vamos a festas e nem vamos participar de blocos. Preferimos fazer alguma atividade caseira, passear, jantar com os amigos, assistir um filme, essas coisas”, conta Cláudia. Eles não são os únicos.
Espalhados pela cidade, muitos jovens procuram fugir do Carnaval: evitam as festas, a Avenida e os blocos; optam, cada vez mais, pela sobriedade da casa ou de um programa mais tranquilo. A atitude nem sempre está ligada à religião. Cláudia, por exemplo, não sente influência da opção religiosa na decisão: “Acredito que participar de um movimento de jovens católicos não muda a escolha de participar ou não das festas” comenta. O motivo da maioria dos jovens dizerem não à tradicional festa é o exagero. “O problema maior é que as festas carnavalescas deixaram de ser um encontro de amigos e tornaram-se oportunidade de fazer o que não convém durante o resto do ano. As meninas saem com roupas minúsculas e os homens gastam o dinheiro que tem e o que não tem com bebidas. Sem contar na famosa desculpa de que no carnaval ‘ninguém é de ninguém’. Na quarta-feira são poucos os que lembram do que aconteceu”, declara.
Guilherme concorda. Ele comenta, ainda, que nem sempre foi assim. “Eu até ia, quando mais novo, no Carnaval de rua. Mas, depois de um tempo, pude ver, brigas, discussões, acidentes... Achei melhor parar de participar”. O casal comenta, ainda, sobre a combinação de álcool e direção: “Infelizmente, para assistir aos desfiles você corre o risco de ser assaltado, sem contar que as pessoas aliam o álcool e a direção, o que torna as ruas uma ameaça”. Quanto aos blocos, Guilherme acredita ser um investimento fútil. “Os blocos estão cada vez mais caros. Eu não anulo que você possa ter diversão em todas as noites, mas do meu ponto de vista, é um dinheiro que poderia ser investido em outra coisa mais útil”, conclui. No fim das contas, se não optarem pelos filmes, a opção será um programa com os amigos.
Para quem, assim como Cláudia e Guilherme, excluiu as opções de passar o Carnaval com samba e confetes, mas, também, prefere não ficar em casa há, ainda, uma outra opção. Realizado pela Renovação Carismática Católica, RCC, o Carnaval Com Cristo acontece há quatro anos em Passo Fundo e reúne, a cada edição, quase 200 jovens. A proposta é simples: quatro dias de retiro e três noites de festa. Sim, o Carnaval com Cristo é a prova de que os jovens querem se divertir e estão cada vez mais conscientes sobre os limites dessa diversão.
Karina faz parte do grupo que organiza a atividade e é, há dois anos, uma apaixonada pela data: “Em 2011 eu participei pela primeira vez. É uma experiência fantástica, só vivenciando para poder compreender o alcance”. Ela explica que o retiro envolve diferentes aspectos da juventude: durante o dia há momentos de palestras, reflexões e de convivência com outros jovens que vem de toda a região para participar do encontro. Na parte da noite, bandas e DJ’s fazem show’s com músicas católicas. Uma contradição em um cenário onde a religião parece ser a última coisa a ser lembrada. “O mais bonito é que não é a bebida alcoólica, ou qualquer outra droga, a responsável pela felicidade que sentimos no Carnaval”, comenta Karina.
Estrutura
A estrutura do Carnaval com Cristo foi pensada por Sérgio e Jucélia Muller. O casal é responsável pela coordenação da RCC na região de Passo Fundo e, ao lado dos pais dos jovens e dos coordenadores dos movimentos participantes, se responsabiliza, também, pela organização das atividades do retiro. O resultado são quatro dias onde jovens se divertem e convivem entre si, buscando novas amizades e uma relação saudável com o outro e com Deus. “Não quero dizer que num bloco, por exemplo, eu não irei arrumar amigos. Talvez sim, quem sabe? Mas eu escolho o retiro porque tenho a certeza de que vou encontrar jovens não hesitarão em estender a mão quando preciso. A ideia é passar um carnaval diferente, sem o estresse de ‘encher a cara’ ou, ainda, ‘pegar todos’”, comenta Karina.
Para passar os quatro dias em retiro, o jovem paga R$ 35. O valor é equivalente à hospedagem, alimentação, atividades diurnas e entrada para as três noites de festa. O investimento aumenta se houver consumo de bebidas durante as festas. Não, não há bebida alcoólica – água e refrigerante são vendidos a noite inteira. Mais uma prova de que bebida, juventude e diversão não precisam ser sinônimos. No Facebook, a expectativa para o Carnaval com Cristo é grande: no evento criado para a divulgação das atividades, jovens de toda a região interagem e esperam, ansiosos, o início do encontro que acontece hoje às 13h30.
De encontro às origens do Carnaval, quando cada cidade buscava festejar de acordo com a sua cultura, os jovens escolhem, hoje, celebrar do seu jeito. Nas ruas ou em casa, se libertaram da obrigação de jogar serpentinas ou confetes.
Carnaval? Do meu jeito.
· 4 min de leitura