Arcebispo Dom Altieri não se diz surpreso com a renúncia de Bento XVI

Dom Altieri comentou ainda que apesar das manifestações de surpresa da comunidade católica em todo mundo, o papa já havia manifestado sua intenção de renunciar ao episcopado em um dos livros que escreveu

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Ao saber da renúncia de Bento XVI do posto de líder mundial da Igreja Católica nesta segunda-feira (11), o arcebispo de Passo Fundo, Dom Antônio Carlos Altieri, disse que sua decisão não o surpreendeu e que o Papa deu um "exemplo de humildade" ao deixar o cargo. “A atuação de Bento XVI nesses anos vem a ser coroada com esta atitude muito desprendida, muito evangélica e simplória. Neste sentido não foi uma surpresa, porque conhecendo a pessoa dele, a sua mentalidade e sua coerência, sua decisão levaria a isso, caso fosse necessário”, comentou Dom Altieri.

O arcebispo de Passo Fundo revelou que conheceu pessoalmente o papa Bento XVI ainda antes da sua posse, quando morou em Roma entre 2000 e 2006. Ele acompanhou a doença, a via sacra, a morte de João Paulo II e o processo de escolha do seu sucessor. “Compreendendo a sua maneira de ser, a sua coerência e seus dons, nós sabíamos que o papa Bento XVI teria coragem de, num mundo em que todos zelam pelo poder, se sentir muito livre de se dispor desta condição para continuar servido através de outras formas, como da vida de oração, de mais contemplação e de serviços, que certamente ele continuará”.

Dom Altieri lembrou ainda que o atual papa não estava no conclave como um dos papáveis no momento da morte de seu antecessor. “O cardeal Ratzinger se evidenciou presidindo essa via sacra de João Paulo II com um texto muito incisivo em relação a realidade da Igreja e isso certamente começou a despontar como sendo a pessoa que, em duas semanas, os cardeais elegeriam como sendo o novo papa”, contou.

Um dos motivos apontados por Bento XVII para a sua renúncia foi a dificuldade de acompanhar a rotina desgastante do cargo, devido à idade avançada – em abril ele completa 86 anos. “Em 2010, estive pessoalmente com Bento XVI por mais de 20 minutos para ‘Visita ad limina’ (visita realizada pelos bispos ao papa para apresentar um relatório sobre o estado pastoral das suas dioceses) quando ele ainda atendeu um por um mais de 50 bispos. Ele não demonstrou em nenhum momento cansaço, pressa ou desejo de encerrar a conversa. Mas recentemente soube que ele reduziu o tempo dessas visitas por não ter mais forças físicas para acompanhar esta rotina”.

Dom Altieri comentou ainda que apesar das manifestações de surpresa da comunidade católica em todo mundo, o papa já havia manifestado sua intenção de renunciar ao episcopado em um dos livros que escreveu se ele sentisse que estaria impedido por limites de sua saúde de dar conta das exigências da missão. “Não nos surpreende a decisão e, sim, o momento, já que ele não havia revelado publicamente que faria o ato da renúncia. Em um dos seus livros, ele disse que não teria dúvida de entregar na mão de Deus a continuidade e o discernimento justo a outro que tocasse a frente a sua missão. Por isso, a atuação de Bento XVI nesses anos vem a ser coroada com esta atitude muito desprendida, muito evangélica e simplória. Neste sentido não foi uma surpresa, porque conhecendo a pessoa dele, a sua mentalidade e sua coerência, sua decisão levaria a isso, caso fosse necessário”.

CNBB
Em nota oficial, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB divulgou nota sobre o anúncio da renúncia. “A CNBB recebe com surpresa, como todo o mundo, o anúncio feito pelo Santo Padre Bento XVI de sua renúncia à Sé de Pedro, que ficará vacante a partir do dia 28 de fevereiro próximo. Acolhemos com amor filial as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal de sua humildade e grandeza, que caracterizaram os oito anos de seu pontificado”.

Renúncia Papal
Bento XVI anunciou nesta segunda-feira em latim a decisão pela primeira vez durante uma reunião de cardeais no Vaticano que tratava da canonização de três santos. Em comunicado, o Papa disse que tomou a decisão por considerar que sua condição de saúde e idade avançada já não eram adequadas para continuar no cargo. Ele continuará realizando suas funções normalmente até o dia 28 de fevereiro.

Leia, abaixo, a íntegra do discurso em que Bento XVI anuncia, em um encontro com altas autoridades eclesiásticas, que deixa o pontificado:

“Caríssimos irmãos,

Convoquei-vos para este consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos cardeais em 19 de abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os padres cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.

Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.


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