A paixão pela aviação misturada com o prazer da adrenalina provocada por manobras arrojadas pode ter sido a receita fatal no acidente aéreo que causou a morte do piloto e empresário Alexandre Scheidmandel, 43 anos, terça-feira, no distrito de Pulador, interior de Passo Fundo. O diagnóstico foi feito na manhã de ontem por amigos da vítima durante entrevista coletiva na sede da empresa Asas do Sul Escola de Aviação, da qual Scheimandel era um dos sócios. As causas do acidente estão sendo investigadas pela Polícia Civil.
“Era um piloto extremamente capacitado, mas sentia prazer em arriscar. Por várias vezes pedimos que evitasse voos arrojados, porém, era a característica dele” lamentou Juares Riva Vaz, amigo e sócio na empresa. Durante a coletiva, foi exibido um vídeo postado na internet pelo próprio Alexandre, realizando uma série de rasantes e curvas sobre o aeroclube, considerados pelos especialistas, de alto risco em razão da aeronave utilizada.
As imagens mostram o empresário pilotando um avião RV9A, ainda mais potente que o Quasar Lite, envolvido no acidente. O novo modelo, homologado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), havia sido adquirido pela empresa no início de janeiro e trazido da fábrica, em Franca/SP, para Passo Fundo por Alexandre, acompanhado do instrutor Márcio Martinelli, que testemunhou a morte do amigo na terça-feira.
Ele contou que havia feito um voo de instrução momentos antes do acidente e que as condições climáticas e da aeronave estavam perfeitas. Após a tradicional inspeção pré-voo, Scheidmandel decolou por voltas das 19 horas, e deu início às manobras arriscadas. “Ficamos olhando angustiados. Ele fez duas passagens muito baixas sobre a pista. Por um momento ameaçou aterrissar, sentimos um alívio, mas continuou. Após uma curva para a esquerda, perdeu altitude e quando tentou virar para a direita, perdeu aceleração e bateu com a asa no solo. Ele se atrapalhou com a altura. Mesmo seguindo em linha reta tocaria o solo” demonstrou usando um avião em miniatura na mão.
A queda ocorreu no meio de uma lavoura de soja, distante 1,8 quilômetros da cabeceira da pista do Aeroclube. O corpo do piloto foi arremessado por aproximadamente 30 metros do avião. Quando os amigos chegaram ao local, ele já estava sem vida. Martinelli isentou a aeronave de qualquer responsabilidade no acidente. Para ele, o colega extrapolou os limites ao realizar um voo arriscado com um avião de instrução, de alta tecnologia, porém, com potencia limitada para certas manobras.
Martinelli revelou ainda que o colega não costumava usar a parte de cima do cinto (ombros). “Ele dizia que se sentia muito preso. A perícia vai comprovar se estava usando ou não no momento da queda. O fato é que o cockpit (cabine) do avião ficou preservado” comenta. O empresário era habilitado para pilotar desde 2008. Mesmo já tendo testado anteriormente o Quasar, inclusive quando ainda estava em São Paulo, os amigos acreditam que na terça-feira ele estava realizando o primeiro voo mais arrojado com o avião.
Para o diretor técnico do Aeroclube, Naerton Roratto, o qual era sócio com a vítima no modelo RV9A, a diferença de potência do motor entre as duas aeronaves pode ter traído a confiança do piloto. “Eu inclusive o havia alertado sobre as manobras com o novo avião. Quando se muda de aeronave elas precisam ser revistas. Não dá para levar as mesmas características de um modelo para outro. São aeronaves diferentes. Perdemos um grande amigo, um grande piloto e um parceiro no Aeroclube” lamentou.
Imprudência pode ter causado acidente com monomotor
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