O Clube dos Amigos e Protetores dos Animais (Capa) faz um trabalho digno de reconhecimento da comunidade passo-fundense. Há mais de uma década, o Capa realiza uma ação que deveria ser responsabilidade de todos, incluindo poder público e proprietário de animais. Atualmente, a verba repassada pelo município de R$ 200 mil por ano, dividida em parcelas, não é suficiente para manter a entidade, que também recebe contribuições por meio de doações da comunidade. Proteger os animais não é tarefa fácil e exige o esforço de toda a população. A principal reivindicação do Capa para amenizar o problema dos animais abandonados é a criação de políticas públicas por parte do município.
Basta apenas alguns minutos em frente ao abrigo do Capa para perceber o tamanho do problema envolvendo o abandono de animais. Um, dois, três veículos param em fila para deixar um cachorro idoso, outro cego ou uma caixa com filhotes. Todos possuem a mesma história: foram encontrados abandonados em um terreno baldio ou em frente a casa de alguém.
De um lado, as pessoas, que se comovem com a situação dos bichinhos, mas não possuem condições de abrigar em casa ou dinheiro para levar ao veterinário. Do outro, o Capa, que está abarrotado de animais e também não possui atendimento veterinário gratuito.
Situação financeira
O Capa abriga mais de 390 animais. Destes 32 são gatos. Também há 30 cavalos mantidos em outro local. Três funcionários estão na Ong durante 24 horas. O custo mensal para manter a entidade é de aproximadamente R$ 25 mil. “Gastamos com manutenção, funcionários, com a legalidade da entidade, com Conselho de Medicina Veterinário. Só de água para lavar os canis são três mil reais por mês, de ração são mais 13 mil, de água sanitária é uma caixa por dia. Temos convênio com clínicas veterinárias onde conseguimos um preço mais flexível, mas nada sai de graça”, revelou a presidente do Capa, Zulma Marques.
Um convênio feito com a prefeitura garante cerca de R$ 200 mil por ano para manter a entidade. No entanto esta verba não é suficiente. “O Capa ganha dinheiro público do Fundo Municipal do Meio Ambiente para atendimentos a animais que sofrem maus tratos, mas o valor não cobre a metade dos nossos custos mensais”, disse Zulma.
Parte das doações também é feitas pela comunidade, mas também não atingem o valor total dos custos. “Nunca conseguimos atingir 100% de arrecadação para quitar os gastos mensais. Isto acarreta dívidas com clínicas veterinárias e fornecedor de ração. A nossa dívida é em torno de R$ 60 mil”, salientou a presidente do Capa.
Políticas Públicas
Conforme a Ong, existem cerca de 20 mil animais abandonados nas ruas de Passo Fundo. No Capa giram cerca de mil animais por ano. Para amenizar esta situação é preciso que o município crie políticas públicas. “É uma bola de neve. É preciso políticas públicas para estancar o número de abandonos, castração em massa para no mínimo três mil animais ano, atendimento veterinário gratuito e internação. Não adianta criar vários canis”, declarou Zulma.
O Capa é contra a criação de um centro de zoonose. “Temos cerca de 20 mil animais na rua. Se toda população destinar os animais ao centro de zoonose em seis meses o canil estará cheio e daí tememos a mortandade ilegal de animais como aconteceu no ano passado em um hospital veterinário de Canoas”, justificou.
Avanços
Mesmo há 11 anos sem políticas públicas de proteção aos animais, houve alguns avanços. A presidente do Capa citou a verba do Fundo Municipal do Meio Ambiente, a criação de um departamento específico na Secretaria do Meio Ambiente para tratar de maus tratos e viatura e uma carretinha para transportar cavalos mal tratados. “O que nos motiva é ver os animais recebendo um lar e bem depois de tanto sofrer. A motivação está em cada animal que a gente salva e não naqueles que a gente perde”, declarou Zulma.
Futuro
O Capa espera que cada pessoa ajude na proteção dos animais e que haja políticas públicas efetivas. “Esperamos não abrigar mais tantos animais, que não haja a necessidade de se ter um Capa para abrigar 400 animais. Temos 400 animais abrigados, mas tem milhares abandonados na rua”, disse a presidente do Capa.
“A responsabilidade é de todos nós”
O problema dos animais abandonados só poderá ser resolvido com a ajuda integrada do município, das Ongs e da população. “Cansamos de receber ligações de pessoas nos chamando para ajudar um animal que está em frente a sua casa agonizando desde ontem. Se o bicho está agonizando desde ontem na tua frente, faça alguma coisa. A responsabilidade é de todos. Atrás de um animal abandonado tem a mão do homem”, enfatizou a presidente da entidade.
“Sou uma apaixonada por animais”
O trabalho dos voluntários do Capa deve ser valorizado e aplaudido pelos passo-fundenses. São poucas as pessoas que dedicam parte do seu tempo, da sua casa e da sua vida para defender e cuidar dos animais. Essa dedicação pode ser exemplificada na atuação de uma das integrantes da Ong. Zulma Marques entrou para o Capa depois de três anos de fundação da entidade, mas é protetora de animais há 25 anos. Na época ela tinha apenas dois cachorros. Hoje além de cavalos, ela possui 14 cachorros, nove gatos e cinco aves. Os gatos, cachorros e cavalos são em sua maioria animais abandonados ou que sofriam de maus tratos. As aves apreendidas por tráfico de animais silvestres são todas legalizadas. “Esse amor surgiu ainda na infância. Quando era criança eu escondia os bichinhos em baixo do porão da minha casa, porque meu pai não queria muitos bichos. Eu sempre tinha um cachorro ou um gato com cria em casa. Gosto de todos os tipos”, declarou Zulma.
No pescoço, a protetora dos animais carrega uma medalhinha de um cavalo. O anjo 99 é um dos animais adotados por ela. No histórico do animal estão vários títulos de tiro de laço e freio de ouro. Há quatro anos, o cavalo foi encontrado em estado precário. “Era um cavalo que ganhou prêmios e depois envelheceu. Teve um desgaste por ser forçado demais nestas provas e foi vendido para carroceiros. Quando ele foi resgatado, o cavalo estava com as quatro patas com aguamento, que é uma doença que apodrece o casco do cavalo. Ficou quatro meses internado e depois eu adotei. Hoje ele pesa 450 quilos, está enorme, manso e lindo”, contou a protetora de animais.
No ano passado, cerca de 100 cavalos foram retirados das ruas por maus tratos. Atualmente, cerca de 30 animais estão albergados e apenas quatro estão aptos para a adoção. Conforme Zulma, 99% dos cavalos de carroças estão abaixo do peso ideal e anêmicos.
Um ato de amor
Chaiane Silveira, de 14 anos, já tem dois cachorros e três passarinhos em casa. Na semana passada, a jovem resolveu adotar mais um. O escolhido foi um filhote. “O nome dele vai ser Potter em homenagem a outro cachorro que eu tinha e morreu”, disse Chaiane.
Como surgiu?
O Capa foi fundado no dia 23 de fevereiro de 2002 por um grupo de amigas que gostava de animais e estava cansado de ver o sofrimento dos bichinhos. Foi alugado um sítio e no primeiro ano já havia 40 animais. “Na época não tínhamos experiência. Éramos um pouco sonhadoras e achávamos que resolveríamos o problema dos animais abandonados. Claro que não conseguimos resolver, mas salvamos milhares de animais”, relembrou a presidente do Capa.
O Capa é uma organização não governamental, formada por voluntários, que atua na cidade de Passo Fundo - RS, e que tem por objetivo amparar animais abandonados, doentes e vítimas de acidente ou maus tratos, dando a eles um tratamento digno para, assim que estiverem em condições, doá-los a pessoas conscientes da posse responsável de um animal.
Primeira feira do ano
No último sábado (23), data de aniversário do Capa, aconteceu a primeira feira de 2013. As feiras para doação são realizadas a cada 15 dias, na praça em frente ao Igaí Eventos, na Avenida Presidente Vargas. A próxima feira será realizada no dia 09 de março, das 10h às 18h. Para Adotar basta ser maior de 18 anos, apresentar um comprovante de residência, carteira de identidade, CPF, preencher um termo de responsabilidade.
Doações
As doações em dinheiro podem ser feitas através de depósitos bancários para a Associação Clube dos Amigos e Protetores dos Animais (CAPA):
- Caixa Econômica Federal: Agência: 3063 Conta: 739-7 Operação: 003
- Banrisul: Agência: 0917 Conta: 060837950-4
- Banco do Brasil: Agência: 4354.0 Conta: 2002-8
- Outros tipos de doações podem ser entregues nas Feiras de Adoção ou na Secretaria Municipal de Meio Ambiente: Rua Uruguai, n° 760 (próximo ao Clube Juvenil);
Conheça na nossa galeria alguns animais que esperam para serem adotados