Fumaça branca
A espera pela fumaça branca significa muito mais do que a mística inculcada pela liturgia de escolha do novo Papa. Os quadrantes do mundo refletem curiosidade leiga e, certamente a esperança de melhores dias na condução da Igreja Católica, entre os adeptos da cristandade romana. Se a hierarquia da Igreja fosse invertida, com preferência aos mais pecadores – e que mais precisam da mensagem cristã -, candidatar-me-ia a expressar o desejo de ter no novo Papa uma personalidade mais despida de melindres em relação aos segredos ou valores materiais do alto Vaticano. O nome de preferência regional apresentou-se, com justa simpatia, na pessoa do cardeal Odilo Scherer, de enorme sabedoria e reconhecida prática pastoral.
Transparência
Sem tentar adivinhar nada sobre a coragem moral dos príncipes da Igreja, não podemos esconder enorme simpatia pelo cardeal Timothy Michael Dolan, de Nova Iorque, que é apontado entre os favoritos ao pontificado, juntamente com seu conterrâneo americano Sean Patrick O’Malley. Timothy, no entanto, foi a posição mais clara e transparente entre os notáveis da sociedade mundial católica a enfrentar com pundonor cidadão a questão da pedofilia que envolveu religiosos nos EUA. Foi decidido em reconhecer o erro e promover a responsabilização civil e canônica dos acusados pelo crime hediondo da pedofilia. Muito digno este gesto do ilustre prelado que indica um dos caminhos imediatos para a Igreja recuperar credibilidade e estimular os religiosos que lutam pela difusão da fé, e que também se sentem a grande maioria ultrajada. Tudo bem! Não basta apenas isso. Sabemos, no entanto, que os cardeais são invariavelmente grandes expressões de altruísmo, competência, sabedoria, capacidade de comunicação e amor à humanidade. Há momentos, como este, em que todos estes valores soam como fundamentais, mas a coragem de romper com situações de perversidade, como a questão da pedofilia, é homenagem à esperança na verdadeira fraternidade. O próprio evangelho narra o momento em que Jesus passou a mão no rebenque a expulsou pessoas que desrespeitavam o templo. Mas Cristo não esqueceu seu cuidado e sua ternura para com os infantes: “Sinite parvulos venire ad me” (“deixai vir a mim as criançinhas”) - segundo o evangelista Marcos. A fumaça branca golfou no céu de Roma e “habemus papam”! É o argentino Jorge Mario Bergoglio.
Tigres e a mulher
No dia internacional da mulher fui ao lançamento do livro de Ivaldino Tasca, Cláudia Rocha Crusius, José Ernani de Almeida, Josiane Petry Faria, Mariane Loch Sbeghen e Marina de Campos. O título chamativo e intrigante combina com a proposta do debate “É pensando nos homens que eu perdoo aos tigres as garras que dilaceram”. Após a primeira leitura, reli o trabalho. Completei a primeira etapa de releitura (e confesso deficiência na retenção de detalhes ao ler rapidamente), sentindo enorme satisfação ao perceber a consistência da obra. José Ernani mostrou elasticidade na abordagem que mantém a precisão acadêmica, ligação sistêmica no contexto da proposta hexagonal das opiniões, e adequação verbal. Permita-me o prezado mestre, mas até as frases ganharam ritmo, mostrando que sua dedicação fez deste trabalho um manancial denso. A gente lê impulsionado também pelo humor literário na construção de frases, mostrando que o apanhado científico antropológico e suas conclusões podem ter leveza. Excitante leitura. Logo mais comentaremos os outros autores.
Retoques:
* A administração Azevedo/Roso deliberou pela continuidade do apoio ao esporte do Passo Fundo e do Gaúcho, com proveitosos reflexos no futebol amador.
* É recomendável que a comunidade acompanhe os trabalhos ou programas de orientação e construção social liderados pelas instituições religiosas, como é a educação e assistência social da Leão XIII, que promove jovens e adolescentes.
* Particularmente, não aprecio a apologia da liderança do falecido presidente Chávez, com tamanha exacerbação. Mesmo que tenha atuado na exaltação dos direitos de seu povo. Essa história de criarmos os faraós da América Latina guarda o mofo social das obras faraônicas erigidas com o suor escravo no antigo Egito.