OPINIÃO

Meu caro amigo

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Em 1974, Chico Buarque lançou a música Meu Caro Amigo em companhia de Francis Hime em que mandava notícias a um brasileiro exilado e que relatava o contorcionismo que um cidadão comum tinha que realizar para enfrentar as agruras do cotidiano. Bem, saiu na Folha, na data de 05.3.13, artigo assinados pelos médicos especialistas em Medicina Preventiva e Saúde Coletiva Lígia Bahia, Luis Eugênio Portela e Mário Scheffer  que reportam o desmonte final do SUS que vem sendo negociado a portas fechadas com a presidente Dilma e os donos de planos de saúde, alguns deles financiadores da campanha presidencial de 2010. Parece coincidir com a facilitação da venda de 90% da Amil, maior empresa privada do setor de saúde do Brasil, para a gigante norte-americana UnitedHealth por 4.3 bilhões de dólares.

A Qualycorp, seguradora que vende todos os planos de saúde, colaborou na campanha de Dilma com modestos 900 mil reais, contra 37 milhões ofertados por empreiteiras e construtoras, 7% do total, pelos bancos, 8% pelo setor sucroalcooleiro e 8% do total pelo setor imobiliário. Como a bondade desinteressada não existe, o PAC do governo beneficiou as empreiteiras que “colaboraram“ na campanha política, O Bolsa-Família contempla a indústria de alimentos e de açúcar doadores de mufunfa para a campanha e o programa Minha Casa - Minha Vida beneficiou a gente dos empreendimentos imobiliários, gente amiga. Atente também, caro leitor, que o presidente da Agência nacional de Saúde (ANS), o Sr Maurício Ceschin é oriundo da Qualycorp e dela saiu embora percebesse um salário em torno de cem mil reais mensais para outro emprego de quinze mil, afirmações feitas no penúltimo Congresso do Sistema Unimed e na presença de outras autoridades em Saúde Suplementar. Interesses, como diria o velho caudilho Leonel Brizola, interesses.

Então, meu caro amigo, a coisa é mais ou menos assim: a Carta Magna de 1988 foi redigida por três caciques do PMDB – FHC, José Serra e Mário Covas, sob a batuta do velho Ulisses; É a constituição dos sonhos, é a própria utopia e como tal não se materializará porque não há dinheiro para tanta bondade, pelo menos em relação à saúde pública, pois, como garantir boca livre a todos? ; O crescimento do setor privado de planos de saúde é uma saída inteligente porque se o governo vai subsidiar ou reduzir tributação aos planos, esses ficarão mais ao alcance da patuléia e, finalmente, o trabalhador adquirirá o direito de sentar na poltrona dos consultórios para consultas em horários agendados, bingo. Meu caro amigo, estamos na análise de que teóricos elaboram compromissos sociais sem orçamentação para tal. Estamos analisando que o subfinanciamento do SUS não se dá somente pela falta de erário, mas também por descaminhos ou malversação de dinheiro público.

Estamos analisando que há muitos interesses acima da compreensão da patuléia. Estamos analisando que o cidadão não deve ter muitas esperanças porque ele não é o fim, ele é o meio pelo qual se pretende a manutenção do poder. Estamos analisando que a crítica petista à política neoliberal dos PSDB em relação à entrega dos negócios à mão estrangeira é pura balela, é jogo de cena. Os muitos caminhos de diversos governos são os descaminhos que a maioria dos cidadãos condena. Mas, inexplicavelmente estamos a contemplar os representantes na Câmara, Senado e Comissão de Direitos Humanos. Se os articulistas acima citados estiverem corretos só resta a nós, patuléia, a cantar com Chico Buarque, que nos convida ao contorcionismo e em seus versos canta e eu reproduzo enquanto encho meu copo de cerveja: “ e a gente vai levando de teimoso e de pirraça e a gente vai tomando que, também sem a cachaça, ninguém segura esse rojão”

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