" O papa tomou chimarrão na minha cuia!"

Frei Carlos, pároco de Marau, conta como foi trabalhar com o papa Francisco quando ele ainda era cardeal

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Na época em que o pároco de Marau, frei Carlos Hockembach, trabalhou com o cardeal Jorge Mario Bergoglio ele ainda não aspirava se tornar o papa Francisco. Pouco mencionado, o cardeal argentino surpreendeu aos católicos pelo mundo quando foi eleito papa na última semana. Enquanto o Brasil torcia por dom Odilo Scherer, o frei Carlos mantinha sua torcida fiel por cinco cardeais, nenhum brasileiro, entre eles o argentino Bergoglio. “Muita gente torcia por um papa brasileiro e eu sempre dizia que o importante não era a nacionalidade. Não podemos ser bairristas. Mas eu torcia para que fosse alguém de fora da Europa, porque há muito tempo ela deixou de ser a referência do catolicismo”, revela o frei que conquistou a simpatia do futuro papa em quatro encontros realizados entre 2008 e 2011.

Neste período, o frei Carlos trabalhou no Conselho Episcopal Latino-Americano como secretário executivo de Missão e Espiritualidade. No primeiro encontro, o frei foi o responsável por organizar a liturgia e os momentos de oração dos dias do retiro. A primeira celebração foi presidida por dom Bergoglio – então presidente da Conferência Episcopal Argentina. “Cheguei ainda meio cru, com meu estilo bem popular. Fiz os cantos que sabia e já percebi o estilo dele bem simples de celebrar sem aquele formalismo e nos sentimos bastante a vontade”, conta o frei Carlos que animou a celebração com o violão que aprendeu a tocar de forma autodidata. Ao final da celebração, o elogio recebido é guardado com carinho até hoje. “No final ele disse: assim dá gosto de celebrar”, lembra. Para o frei aquela foi a primeira demonstração da simpatia e da empatia que o futuro papa tinha com as pessoas ao seu redor.

Violão
O segundo encontro com Bergoglio aconteceu durante o 49º Congresso Eucarístico Internacional, realizado em Quebec, no Canadá. “Ele logo me reconheceu e perguntou: ‘¿Donde está tu guitarra?’ Parece que o violão marcou porque ele sempre se recordava”, conta o frei. Além do violão, o costume pelo chimarrão aproximou ainda mais o frei e o cardeal. Apesar de ter dado a cuia com a qual mateou com o futuro papa, o frei ainda utiliza a mesma bomba dividida. “Sempre brinco: o papa tomou chimarrão na minha cuia”, conta em clima de descontração.

Nome
A escolha pelo nome Francisco é considerada cheia de significado pelo frei capuchinho franciscano. “Quando ele adotou o nome Francisco pensei que tem tudo a ver. Ele tem as características franciscanas como a alegria contagiante, a fraternidade - tanto que a primeira fala dele foi sobre a questão da fraternidade-, a simplicidade e a humildade. Vejo também que o fato dele ter escolhido esse nome tem ligação com o tempo de São Francisco e hoje”, observa. No tempo em que São Francisco viveu a igreja passava por uma crise profunda, assim como a sociedade e o santo foi capaz de ajudar a remodelar a igreja. “E acredito que ele se sinta nesse contexto de uma igreja em crise, que não podemos negar, e também uma sociedade toda em crise. Acho que ele vai se inspirar muito em São Francisco de Assis”, aposta o frei.

Temas polêmicos
Sobre os temas polêmicos com os quais o papa Francisco terá de lidar durante seu pontificado, o frei Carlos observa que para muitos deles o novo pontífice é considerado conservador. No entanto, na visão dele isso não é negativo. “O desafio vai ser ter a empatia de saber dialogar com todos os grupos”, simplifica. O frei também opina sobre algumas questões, como o celibato sacerdotal. Para ele deveria haver a possibilidade de se optar por esta condição, tendo em vista também a carência da igreja por novos sacerdotes. Sobre a homossexualidade o frei afirma que será preciso saber dialogar com esses grupos, sem jogar por terra os princípios bíblicos, mas de modo a acolher “Acho que nesse sentido ele é muito acolhedor, ele demonstra isso, e eu vejo que ele saberá ser um homem de diálogo em todas essas questões e não dá pra fugir porque é uma realidade que nos cerca”, reforça.
Com relação à expectativa que havia sobre a escolha de um papa mais jovem, o frei observa que neste sentido não se tratava de idade, mas sim da jovialidade de espírito que, segundo ele, é uma característica de Bergoglio.

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