Integrantes do projeto Mulheres da Paz se concentraram ontem à tarde em frente ao fórum, em razão da audiência realizada na 1ª Vara Criminal sobre o assassinato da colega Sílvia Aparecida de Miranda, 36 anos, morta a facadas pelo genro, de 20 anos, em outubro passado. A surpresa ficou por conta do depoimento da filha da vítima e esposa do réu. Arrolada como testemunha de acusação, a jovem, de 19 anos, mudou a versão prestada anteriormente para a polícia e imprensa, e depôs a favor do acusado. Diante da situação, o advogado que defendia a jovem não teve alternativa senão renunciar imediatamente do caso.
Na audiência, o juiz titular da 1ª Vara Criminal de Passo Fundo, Maurício Ramires ouviu depoimento de quatro testemunhas de acusação e duas de defesa. Ao ser interrogada, a jovem apresentou versão contrária do que já havia declarado publicamente. Segundo o advogado da mãe e de outra filha da vítima, Leandro Scalabrin, a jovem negou a briga com o marido na noite do crime e contou que Sílvia havia atacado o genro a pedradas. Em sua versão, o rapaz tentava se defender quando a mãe caiu sobre o canivete que ele tinha nas mãos. Ainda conforme o advogado, a filha assumiu ter rasgado suas próprias roupas dentro da casa onde residiam, tirando a culpa do marido, conforme havia divulgado anteriormente.
“Acontece que o laudo de necropsia comprova que Sílvia levou cinco e não apenas uma facada. Uma delas atingiu o coração, três embaixo do braço esquerdo e uma nas costas. Foi um caso clássico em que a mãe tentou proteger a filha e acabou sendo vítima” explica Scalabrin. Uma testemunha ouvida ontem, moradora ao lado da casa onde aconteceu o crime, confirmou a briga do casal. Em razão da ausência de uma testemunha de acusação, o juiz marcou nova audiência para o dia 12 de abril, quando o réu, que segue preso, será interrogado. “Pelas provas que constam no processo acredito que o caso será levado ajuri popular” afirma Scalabrin. A reportagem tentou contato telefônico com o advogado do acusado, mas ele não foi localizado.
Vigília
O ato em frente ao fórum, previsto na programação referente ao mês da mulher, também marcou a retomada da vigília realizada pelas ativistas durante 20 dias seguidos após o crime. “Estamos mobilizados para que se faça justiça no caso Sílvia. Ela representa centenas de outras situações envolvendo violência doméstica no nosso município”, afirmou Nei Alberto Pies, integrante da Comissão dos Direitos Humanos de Passo Fundo.
Por cerca de duas horas, as mulheres fizeram orações, entoaram canções de protesto e leram em voz alta frases escritas em diversos cartazes fixados na parede do prédio. A vigília contou ainda com a presença de vereadores e de representantes de entidades ligadas ao tema. Ao final, as ativistas estenderam uma colcha de retalhos, confeccionada coletivamente, trazendo uma foto de Silvio ao centro.
Muito emocionada, Ortelina de Miranda, 64 anos, mãe da vítima, protestava pela manutenção da prisão do acusado e revelou que a família vem recebendo ameaças em função do caso. “Já ameaçaram inclusive incendiar minha casa. A situação está muito difícil. Além de perder minha filha temos que passar por isso” disse. Dos cinco filhos deixados por Sílvia, três deles, com idades entre 10 e 17 anos, ficaram sob a responsabilidade dela.
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Márcia Carbonari explica que as ameaças demonstram que a violência doméstica não está restrita apenas ao casal. Seus desdobramentos, segundo ela, acabam colocando em risco a vida de familiares e de outras pessoas. “A violência não terminou com a morte da Sílvia, ela perdura, se estende e atinge toda a sociedade” comenta.