A Escola Estadual de Ensino Fundamental Abhramo Ângelo Zanotto recebeu uma má notícia neste mês de março em que completará 52 anos de história na comunidade de São Roque, no interior de Passo Fundo. A partir de abril, a instituição passará a funcionar em turno único e as turmas de 1º a 8º ano serão transformadas em cinco turmas. Esta medida é para atender a política do governo estadual de racionalização de recursos humanos e de gerenciamento de matrículas. A direção da escola ingressou com um processo no Ministério Público Estadual para reverter a decisão oficializada pela 7ª Coordenadoria Regional de Educação (7ª CRE).
A Escola Abhramo Ângelo Zanotto atende alunos do distrito de São Roque e de bairros vizinhos como Santa Rita e Roselândia. São 61 estudantes nos dois turnos de funcionamento da instituição. Na segunda-feira, a escola passará a ter cinco turmas. Serão juntados os 1º, 2º e 4º anos, depois 6º e 7º anos, 7ª e 8ª séries e o 3º e 5º ano continuarão com turmas individualizadas. Segundo a diretora da Escola, Rosana Araldi, a 7ª CRE alegou que a escola está com poucos alunos e não está atendendo exclusivamente alunos do interior. “A 7ª CRE quer que a gente junte todos os 60 alunos em um turno só e ainda por cima junte alunos de anos diferentes na mesma sala, com o mesmo professor e mesma disciplina. Chegaram a dizer que o conteúdo será o mesmo. Mas o conteúdo de sétima e oitava série é o mesmo? Isto é um absurdo para a educação”, revelou a diretora.
A diretora informou que a comunidade escolar rejeitou a proposta imposta pela coordenadoria de educação. “A proposta não foi aceita durante as assembleias pela escola, pais e lideranças da comunidade. Queremos a escola Zanotto do jeito que ela é há 52 anos. Recebi até ameaças dizendo que eu sofreria penalidades. Eu fui eleita por esta comunidade e vou defender os direitos dela, mesmo que sofra penalidades”, desabafou Rosana.
A medida, segundo a direção e professores, contribui para o êxodo rural e para a queda da qualidade do ensino. “Num momento em que o país inteiro busca pela escola em turno integral, nós da escola do campo somos invadidos por uma notícia deste gênero”, disse a diretora.
A professora Tânia Moreira da Silva acredita que esta decisão do governo estadual seja um retrocesso na educação. “Essa ideia de enturmação é um retrocesso no aprendizado e na qualidade da educação tanto exigida pelo governo”, salientou a professora.
A direção da escola ingressou com um processo na Promotoria de Educação para evitar que a enturmação e o turno único aconteça. O Ministério Público está aguardando uma posição da 7ª CRE.
Posição da 7ª CRE
Conforme a coordenadora de educação, Marlene Silvestrin, a coordenadoria percebeu que a maioria dos alunos não é do interior. “Estávamos trabalhando na ótica de que a escola estivesse recebendo alunos do campo que morassem no interior, mas percebemos que os alunos vêm de bairros como Santa Rita e Roselândia”, justificou a coordenadora. A decisão de diminuir as turmas e do turno único é para distribuir melhor os professores para garantir que não falte profissionais nas escolas. “Estamos trabalhando com a racionalização de recursos humanos e gerenciamento de matrículas. A escola receberá todo o cuidado, vamos olhar a proposta pedagógica, discutir com a comunidade, mas é possível acolher todos os alunos em um turno só. Esta é uma atitude de um gestor que tem responsabilidade com a educação. Foi um projeto eleito pela comunidade gaúcha”, ressaltou Marlene.
Conforme a coordenadora, colocar alunos de anos diferentes na mesma turma não prejudicará a educação e a escola a partir de segunda-feira (01) passará a funcionar em um turno único. “Estamos trabalhando em um processo contínuo de alfabetização, não são coisas diferentes. Faremos reunião com a comunidade, mas não abriremos mão da racionalidade em respeito aos impostos que a população paga”, disse a coordenadora de educação.