Foram quase três meses de espera desde o acidente até a transferência para Passo Fundo, onde fará a cirurgia que tanto esperava. Alex Labres, de 23 anos, sofreu um acidente de moto no dia 3 de janeiro em Lajeado, onde mora, e na mesma data ele deu entrada no Hospital Bruno Born (HBB), daquela cidade, com a perna e o braço diretos fraturados.
O acidente causou um dano na perna do jovem que requer tratamento de alta complexidade em ortopedia e traumatologia, para a qual o HBB não está apto. O caminho, nesses casos, seria a transferência do paciente para o Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas. Porém, conforme foi acompanhado pelo jornal Informativo do Vale, Alex chegou a ser encaminhado para Canoas, mas chegou ao hospital com uma infecção na perna e necessitando de isolamento, o que deveria ter impedido a sua transferência.
Diante da situação e das medidas tomadas pelo pai de Alex, que entrou na justiça pedindo uma resolução, na terça-feira, dia 26 de março, o Ministério Público deu prazo de 24 horas a contar do momento do recebimento da intimação para a solução do caso, transferindo o paciente para um hospital onde pudesse realizar a cirurgia.
Assim, Alex chegou ao Hospital São Vicente de Paulo na manhã desta quinta-feira (28). Já durante o dia, o paciente realizou exames, que vão determinar o tratamento mais adequado. Conforme o vice-diretor médico do hospital, Julio Stobbe, ele sofreu um trauma grave, com perda óssea e provavelmente com processo infeccioso, com osteomielite associado, e por isso necessita de uma série de exames. Parte já foi realizada e outros ainda devem ser feitos ao longo do feriadão. “Essa avaliação inicial devemos concluir no máximo em um dia ou dois, que é o que nos dirá a sequência do tratamento dele. Se houve infecção, a conduta é uma; se não houve, é outra conduta. Não temos ainda a avaliação completa da ortopedia, estamos aguardando tomografias, exames mais complexos”, explica o médico.
Entretanto, Alex está no quarto, não necessitando de tratamento intensivo. Em princípio, o tempo de permanência dele no HSVP é imprevisível, pois vai depender do tipo de tratamento a que deverá ser submetido. “É muito cedo para prevermos. Agora estamos somente em uma preliminar. É um caso complicado, porque foram três meses de espera e então temos que ter tudo em ordem antes de começar”, salienta. Stobbe afirmou que a transferência de Alex para Passo Fundo aconteceu por contato da Central de Leitos do Estado, por ser o São Vicente um hospital de referência em alta complexidade em ortopedia e traumatologia. “Também, porque se houver necessidade de enxerto ósseo, por exemplo, dispomos de banco de ossos”, completa.
A espera
Acompanhando o caso desde o início, o jornal Informativo do Vale, de Lajeado, traçou a linha do tempo do caso de Alex. Confira.
3 de janeiro – Alex Labres (23) sofre acidente de motocicleta, no Bairro Universitário, em Lajeado. No mesmo dia dá entrada no Hospital Bruno Born, com a perna e o braço direito fraturados.
21 de fevereiro –50 dias de espera por uma cirurgia de alta complexidade em traumatologia e ortopedia. Na ocasião, Alex falou da preocupação em perder sua perna direita, pois segundo ele, ela já havia encolhido 15 centímetros. Na reportagem do Informativo o diretor técnico do HBB, Cláudio Klein, destacou que era necessário aguardar a data para o encaminhamento do paciente, já que o HBB não possui alta complexidade em traumatologia e ortopedia e que a referência para estes casos é o Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas.
9 de março – Informado pela reportagem sobre o caso, o coordenador da 16ª Regional de Saúde, José Harry Saraiva Dias, diz que uma auditoria médica entraria em vigor para cobrar uma posição do HBB e de todos os outros prestadores. Na mesma matéria o diretor médico do HBB, Sérgio Marques, diz que a infecção que o paciente teve na perna contribuiu para a demora. Além disso, a reportagem destacou a ida de Alex para Canoas, quando ficou mais de 6 horas sem acompanhamento médico e sem tomar a dose de morfina, necessária para ajudar a combater sua dor. Na ocasião, a assessoria de imprensa do Hospital Nossa Senhora das Graças explicou que o paciente chegou em Canoas em estado de isolamento por já estar muitos dias internado no HBB, estava com infecção hospitalar, assim, oferecia riscos aos demais pacientes, por isso não houve atendimento.
21 de março – Acontece uma reunião em Canoas entre representantes dos dois hospitais. Neste dia fica decidido que o traumatologista de Canoas entraria em contato com o traumatologista de Lajeado, para que assim pudessem chegar a um acordo e ver a possibilidade do Hospital Nossa Senhora das Graças receber o paciente e fazer a cirurgia.
26 de março – 84 dias de espera. Sem saber mais a quem recorrer, o pai de Alex, Carlos Labres entra na justiça para cobrar do Estado uma solução. O Ministério Público dá o prazo de 24 horas a contar do momento do recebimento da intimação. A Secretaria Estadual da Saúde garante que ele será transferido do HBB para o Hospital São Vicente de Paulo. Em entrevista, a SES garante que o paciente foi cadastrado na Central de Leitos do Estado no dia 22 de março, a partir do contato da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, o que já deveria ter sido feito desde o início, pois cabe ao médico assistente do hospital prover o cadastro para que a regulação de traumatologia encontre um leito adequado às necessidades. A Secretaria Estadual da Saúde afirmou ainda que a Central teve dificuldade em conversar com o médico assistente do HBB, e foi preciso acionar o diretor técnico no dia 25, que se encarregou de cuidar da remoção.
27 de março – Coordenador da 16ª Regional de Saúde, José Harry Saraiva Dias, pede desculpas como representante do Estado e afirma que no caso de Alex houve erro em todo o processo. Ele também fala da possibilidade do Hospital Estrela se tornar referência em traumatologia e ortopedia, o que acabaria com boa parte dos problemas da região, que sofre por conta do número significativo de pacientes que estão na lista de espera por uma cirurgia de alta complexidade. O coordenador afirma que existem casos de espera em todo o Estado, por outro lado, diz que o paciente só esperou tanto tempo devido a demora para incluir seu nome na Central e Leitos do Estado, o que só ocorreu por conta da intervenção da 16ª.
(*) As informações repassadas pelo jornal Informativo do Vale são da jornalista Carolina Gasparotto