Todos os anos o Brasil perde milhares de sacas de grãos como soja, milho e trigo prontos para serem colhidos e utilizados para os mais diversos fins. Apesar de haver maquinário com tecnologia de ponta, a falta de uma regulagem adequada é a causa do problema. No Rio Grande do Sul, as perdas já superam os 100 quilos por hectare em algumas propriedades. O dado preocupa principalmente com a intensificação da colheita da soja na região. Conforme dados da Emater Regional de Passo Fundo até agora a área colhida foi de cinco a sete por cento do total, mas o trabalho deve se intensificar na próxima semana.
O especialista em Agroecologia e Mecanização Plinio Pacheco Pinheiro presta consultoria em vários países da América do Sul e nas regiões produtoras brasileiras. Apenas nesta safra ele percorreu o Chile , a Bolívia, o Paraguai, o Uruguai, a Argentina, e as regiões centro-oeste e sul do Brasil para avaliar as perdas na hora da colheita. “Na última semana estive em uma lavoura com as mais modernas máquinas e me impressionei com a quantidade de perda, pelo que se percebe pela germinação da soja que ficou no campo. É mais do que o dobro do que foi plantado por hectare e isso preocupa”, exemplificou. Hoje, a média de sementes utilizadas no plantio por hectare é de 40 quilos.
Quantidade e qualidade diminuídas
Pinheiro esclarece que máquinas mal reguladas do momento da colheita causam perdas em quantidade e qualidade de grãos. Existem dados que a perda aceitável seria de até 0,75 saca por hectare. Para ele esse é um volume ainda excessivo, em torno de 45 quilos. “Infelizmente a nossa média está acima dos 150 quilos por hectare”, observa. Há ainda os grãos que são quebrados e as impurezas recolhidas que acarretam descontos no momento da entrega dos grãos. Ele alerta ainda que a regulagem dos equipamentos é diferente da manutenção periódica que deve ser feita nos equipamentos.
Em trabalhos realizados em algumas propriedades foi possível reduzir perdas de 120 quilos por hectare para apenas sete quilos. “Isso se deve a preparação das máquinas e o operador conhecer o equipamento”, justifica. Muitas vezes, em uma mesma lavoura é necessário regular as colheitadeiras mais de uma vez. Essa variação depende da umidade do grão, do volume de massa e da altura da planta. “O trinômio operador, máquina e planta precisa estar em sincronia”, pontua.
Chuva é sinal de atenção
No Rio Grande do Sul já há resultados preocupantes de perdas no momento da colheita. A chuva complica ainda mais a situação devido a interferência na umidade do grão. “Esse intemperismo não nos permite colher na melhor condição de umidade e é preciso ter cuidado maior e mudar a regulagem da colheitadeira, se não a perda acontecerá”, alerta.
Prejuízo futuro
Além do prejuízo imediato, as plantas que germinam podem causar prejuízos nas safras seguintes. Pinheiro explica que a dessecação da soja depende de produtos específicos. As plantas também beneficiam o desenvolvimento de doenças, principalmente as fúngicas que comprometem a sanidade da cultura que será plantada da área imediatamente após a colheita e também a safra do ano seguinte.
Brasil
Pinheiro considera a perda no momento da colheita um problema social, político, ecológico e econômica do país. Ele justifica a afirmação exemplificando que em alguns anos, as perdas em toda a área plantada no Brasil variaram entre 8 milhões e 10 milhões de sacas. Para esse ano ainda não há uma estimativa, mesmo assim ela deverá ser grande.
Colheita
Com as boas condições climáticas das últimas semanas, as lavouras de soja entram na fase de formação do grão e maturação com boas perspectivas de colheita, mesmo que algumas de ciclo precoce apresentem potencial de produtividade inferior ao esperado incialmente. Em termos gerais a colheita no Estado chega a 25% do total semeado neste ano, com outros 29% já maduros para a colheita. Entre as lavouras já colhidas de soja precoce, o Informativo Conjuntural, elaborado pela Emater/RS-Ascar, destaca as áreas de soja irrigada, cuja produtividade (60 sacas por hectare) é mais de 50% superior as áreas de soja precoce não irrigada.