A quem tem mais de 50 anos é impossível negar o romantismo que se cercou à tomada de Havana por Fidel e Che. Era o povo descendo das montanhas para ter o controle do país. Era a vitória do proletário sobre o burguês usurpador. Aqui, no Rio Grande, as lutas eram parecidas, pois, o sindicalismo do PTB Getulista-Janguista-Brizolista era identificado na grandeza que o nosso estado imaginou ter. Tínhamos a força do Terceiro Exército e tínhamos Osvaldo Aranha, da mesma importância que havíamos disposto de Júlio de Castilhos e Pinheiro machado. O operariado contava com a força popular de Mário Lago, Jorge Amado. Depois, vieram Chico Buarque, Betinho, Millôr, Henfil, Jaguar, Paulo de Tarso (o outro cabeludo que apareceu na sua rua). Era, assim como Zuenir, Ziraldo, Flávio Tavares, Décio Freitas, uma esquerda (do lado do operário), o enfeitiçamento normal de um país cuja população pobre era a maioria absoluta. Mas, haveríamos de ser grandes porque tínhamos tudo novo: capital nova, bossa nova, cinema novo, tropicalismo e dois títulos mundiais de futebol e o rei do futebol. Sim, Juscelino jogou o Brasil para o nacional-desenvolvimentismo que, saiu caro, é bem verdade.
A esquerda acima nominada era a elite do pensamento. Antes de Brasília ser inaugurada, Juscelino encomendou licitação para o serviço de telefonia em cabos subterrâneo e sistema de micro-ondas (o primeiro na América Latina) que estivesse em pleno funcionamento à data festiva. Concorreram para tal obra milionária de 10 milhões de dólares a Siemens (Alemanha), a ITT (Estados Unidos) e a sueca Ericsson. Esta era a única capacitada a entregar o serviço em tempo hábil. O major-engenheiro do exército Dagoberto Rodrigues do bateu o martelo para a Ericsson. Os americanos insatisfeitos mandaram um representante para tentar reverter o quadro, tentando subornar o major. Este abriu a porta de sua sala e aos berros colocou o representante norte-americano para fora dizendo que ele nunca mais colocasse os pés em qualquer repartição pública brasileira. Tratava-se do iniciante Henry Kissinger que viria a ser o todo poderoso conselheiro da política externa dos Estados Unidos e secretário de estado. Quatro anos mais tarde, com o golpe militar o já coronel Dagoberto foi exilado para o Uruguai onde viveu modestamente em casa sem telefone por mais de quinze anos. Foi exilado porque era getulista e PTB. Era da esquerda, era romântico e era corretíssimo. O coronel nunca mais pisou em qualquer repartição pública do Brasil.
Nesta semana, a revista Época traz a reportagem sobre o imbróglio do Ministro Levandovski ao mandar prender o inglês Michael Misick acusado de suborno e crime fiscal. O ministro, a seguir, mandou soltá-lo. Não entendo dessas leis e não vou comentar a decisão da iminência parda. Causou-me espanto, no entanto, que o advogado do cidadão inglês é o Dr Luis Eduardo Greenhalg, sim, aquele mesmo que já foi acusado de falsidade ideológica e improbidade administrativa quando fez parte do governo Luiza Erundina e m São Paulo . É figurinha obrigatória de qualquer livro do PT e circula livremente em qualquer repartição pública. Outro que está em todas é Paulo Okamoto, que dirige as finanças de Luis Inácio e que também já deveria estar preso por assassinatos, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Além de quadrilheiro, o mesmo “escondeu” do ex-presidente toda a podridão acontecida nos dois anos de governo Lula.
Então, Dagoberto da esquerda foi mandado embora porque não admitia qualquer tipo de irregularidade. Okamoto e Greenhalg têm trânsito livre nas colunas sociais quando deveriam estar nas colunas policiais. Afinal, a esquerda mudou seus parâmetros? Os valores são outros? Qual é a capacidade de leniência do povo brasileiro?
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