Escrever sobre esse tema remete a uma profunda análise sobre o pífio debate econômico que assola a classe política no Brasil. No final de semana a grande imprensa seja nas revistas semanais ou nos principais jornais do centro do país, publicaram de forma uníssona que o “governo pisou no tomate”.
Pois bem, com a implantação do Plano do Real, no Governo Itamar Franco, onde teve seu inicio com a Unidade Real de Valor (URV) proporcionou o controle da inflação para os padrões vividos no período, o Ministro da Fazenda da época era Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu Presidente do Brasil nas eleições gerais de 1994 e ainda propiciou sua reeleição no ano de 1998. No período que ela ameaçou retornar, o sonho tucano de se manter no poder acabou nas eleições de 2002, com a eleição do Presidente Lula, culminando na sua reeleição em 2006 e na eleição de Dilma em 2010.
Noves fora, o fato é que a população passou a sentir no bolso o retorno do dragão inflacionário. Para o Czar dos Governos militares e conselheiro econômico do Governo FHC, Lula e Dilma, Delfim Netto, afirma que após o plano real ocorreram quatro ou cinco tentativas frustradas de conquistar de uma taxa de inflação realmente civilizada (em torno de 2% ou 3%) e nunca reconquistamos o dinamismo de crescimento (em torno de 5%). A tabela a seguir, mostra a inflação e o crescimento em cada período de governo e o crescimento do produto interno bruto (PIB):
Período - Inflação - PIB
FHC-1 - 9,7% - 2,5%
FHC-2 - 8,8% - 2,1%
Lula-1 - 6,4% - 3,5%
Lula-2 - 5,1% - 4,6%
Dilma-1/2 - 6,2% - 1,8%
Fonte:IBGE
Entre os anos de 1995 a 2002, de acordo com Delfim Netto a taxa média de inflação foi da ordem de 7,4%, e o crescimento do PIB per capita, da ordem de 1,8%, resultados que estão longe de ser satisfatórios. “É preciso reconhecer que fomos, a pouco e pouco, melhorando a inserção social e aumentando a igualdade de oportunidades, que são fatores civilizatórios, mas isso poderia ter sido ainda melhor com um crescimento do PIB per capita mais robusto e com uma inflação menor. É preciso dar maior atenção a esse problema, porque a paciência dos agentes econômicos com uma inflação tão alta e tão persistente, num período tão longo, está se esgotando”.
Acrescenta-se que após a alcançar uma diminuição significativa da inflação, e do processo de privatização e de concessões no governo tucano, de algumas concessões no governo lulopetista e de anúncios de várias concessões no governo Dilma, o fato é que se evitou atacar com a energia e a determinação necessária os gargalos institucionais, que reduziram a eficácia alocativa dos mercados quando não são de fato competitivos, e os estruturais, pelo abandono investimentos em infraestrutura. Basta ver que o valor dos fretes com a excepcional safra brasileira teve um aumento 20% no seu custo. E o que mais agrava a situação é que a carga tributária representa 36% do PIB e somente 2,30% compõe a taxa média de investimento do país.
A propósito, por mais que os preços tendem a cair ao longo do ano, a inflação continuará a desafiar o Governo Dilma. Seu índice de aprovação pessoal na casa de 78% deve-se ao baixo desemprego, mas se novos choques inflacionários ocorrerem os mesmo irão contribuir para a redução da sensação de bem estar dos eleitores antes das eleições presidenciais de 2014. Se a rota para correção dos choques inflacionários não for definida de forma clara, objetiva e concisa, um aumento do juro real que leva a uma alta do desemprego e a uma moderação salarial, ela tende a assumir sua própria dinâmica, e o custo social para controlá-la aumenta exponencialmente.
Os sinais emitidos pela Presidenta Dilma, que em reiteradas vezes na primeira metade de seu mandato de que um “pouco de inflação não faria mal ao país, coloca em risco a independência do Banco Central do Brasil, que na forma de lei possui a responsabilidade pela política monetária cabe ao presidente do BC, tanto que está em vigor um decreto definindo o regime de metas. O fato é que, ao enfraquecer a independência do BC, a Presidenta atrai para si toda a responsabilidade pela inflação.
Resumindo o problema não é só o “tomate”, mas os sinais emitidos pelo Governo que deixa de ser o indutor para ser o interventor na economia brasileira, ao não alinhar os preços internos do petróleo com os praticados no mercado internacional, ao “quebrar” contratos de concessão e transmissão de energia elétrica, após forçar a redução anunciaram empréstimos do BNDES para auxiliar as companhias para a manutenção do investimento e o pior, menos de sessenta dias após o anúncio da redução das contas de energia elétrica, a ANEEL autorizou os reajustes das mesmas.
Por fim, para evitar o pico inflacionário o Governo Federal solicitou aos Prefeitos das duas maiores cidades do país São Paulo e Rio de Janeiro que autorizassem o aumento da tarifa de transporte público no mês de junho de 2013, ato contínuo como não é possível produzir tomate do dia para a noite, reduziu os impostos da cesta básica como forma de tentar controlar a inflação.