OPINIÃO

Braseiro no guamirim

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Ao passar pelo centro da cidade juntei-me às pessoas que olhavam perplexas para o chão, na manhã de domingo. Gritante era o cenário ao redor do pé de guamirim, típica planta de nossa região - da família das mirtáceas. Guamirim, no tupi-guarani quer dizer: fruta pequena. A pequena árvore, quase arbusto, pelas características da espécie que raramente ultrapassa três metros de altura tinha ao redor do pé amontoado de carvão ao pé do tronco. Ninguém queria acreditar que ali foram jogadas brasas descartadas de um churrasco feito na madrugada na calçada. O taxista que polia seu carro estacionado no ponto narrava como chegou em tempo e viu as brasas furiosamente candentes ao sopro do vento. Imediatamente jogou água para apagar o fogo. Possivelmente tenha salvado o guamirim, rara alegoria da natureza, que tem dado frutos todos os anos.

Prefiro pensar que os estudantes que jogaram o fogo sobre a valiosa árvore não estivessem cientes do mal que poderiam causar. Eles, que logo receberão diplomas para serem nossos líderes, agiram como palhaços do mal, idiotas ou, no mínimo, cabeças-de-bagre. Lembrei-me da questão ética. Será que essa canalhice seria praticada diante de observadores, ou aconteceu apenas porque não eram vigiados? Quase mataram o guamirim do canteiro na General Netto, uma raridade quase exterminada entre dos capões que sombreiam pequenos rios de nossa região. E aqueles que fizeram churrasco na calçada para mostrar tradição e gauchismo mostraram que esse tipo de gaúcho é uma das coisas mais idiotas de nossos dias. Isso por que hoje e sempre é dia de respeito às plantas e à vida! Por favor, se essa gente chegar ao poder político do país, não tratem com tanto desdém as coisas públicas e da natureza!

Liberdade de imprensa
Lembrado em sete de maio o dia da liberdade de imprensa podemos dizer que muitas conquistas foram consagradas na Constituição Federal. O exercício da imprensa livre não é favor a uma classe profissional da mídia, como prerrogativa pessoal. É sagrado direito de todas as pessoas no acesso à informação, garantido exercício profissional do jornalista ou comunicador. São contra a liberdade de imprensa os arroubos de personalismos que enganam a opinião pública. Mais grave é quando o dito profissional desconhece elementos básicos como o princípio do contraditório, omitindo ou cerceando a defesa de indigitados por condutas reprovadas publicamente.

Censura letal
Entre os atos de maior censura estão os atentados e morte de jornalistas. Volta e meio sabemos que um jornalista é morto porque denunciou alguma coisa. Nos últimos dez anos 600 profissionais foram mortos em vários países. O punhal da covardia, que protege com a omissão os apaniguados do poder, ainda anula a coragem de muitos bons profissionais que querem denunciar, mas são afastados da missão. Mas, dia de liberdade de imprensa não é dia de festa. É dia de luta!

Observadores
Tem encontrado boa adaptação nos últimos anos, principalmente após 1995, o sistema da autocrítica pela rede nacional de observadores da imprensa. As faculdades de comunicação mais ativas desenvolvem programas e debates neste sentido. A Renoi – Rede Nacional de Observadores da Imprensa oxigena o pensamento opinativo e a própria mídia. Os maios eletrônicos fortalecem esta necessária democratização do pensamento.

Retoques:
* Cena deprimente que me fez jejuar na hora do café. Ainda não tive tempo para imaginar se o medo de estar contaminado pelo leite adulterado com uréia e formol é maior que a vergonha.
* Muitos pensamentos - sobre a desonestidade gravemente criminosa que levou o contexto de transporte e industrialização do leite adulterado – passam pela nossa cabeça. Principalmente a indignação! É muito triste levantar de manhã e ter que jogar o leite caro e recomendado, no ralo da pia.
* Neste mesmo momento devo dizer que me sinto envergonhado sem culpa, mas envergonhado. O motivo é particular, uma vez que neste mesmo espaço fiz a apologia da produção de leite em nossa terra, crendo na seriedade dessa gente, sem saber da contaminação. 

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