OPINIÃO

Clausura

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Em 20 de julho de 1969, o mundo assistiu pela TV a descida do homem à lua (que dizem por aí, ter sido um “migué” dos americanos). No dia seguinte, em Cruz Alta, muitos carros amanheceram com uma espécie de fuligem nas latarias e o comentário era sobre a poeira da lua. Acho eram as cinzas de alguma erupção vulcânica de Chile ou Argentina trazidas pelo vento, nada mais do que isso. O herói daquele momento era Neil Armstrong, o primeiro homem a descer na lua. O astronauta voltou à Terra, deu algumas entrevistas protocolares e se aposentou da Nasa em 1971. Fez pós-graduação e se tornou professor em Física Nuclear ou Astrofísica, algo assim e por longos anos não fez aparições e nem deu mais explicações aos bilhões de curiosos. Essa espécie de clausura suscitou debates sobre o que Armstrong teria visto do espaço ou da lua. Teria sido Deus, seres extraterrestres, outros mundos ? Um dia o Programa Fantástico da Globo perguntou: o que Armstrong viu lá do céu ? Ele não falou, ele se enclausurou.

Hélio Ribeiro dizia: cada criança que nasce demonstra que Deus ainda não está decepcionado de todo com o homem. Há, por outro lado, num filme de ficção, uma placa, em outro planeta com a estampa: em algum lugar do universo deve existir alguma coisa melhor do que o homem.
De repente, um cansaço...um quase nada negando quase tudo...uma vontade imensa de não correr mais atrás do dinheiro...mas, para não correr atrás é preciso ter dinheiro... e, quando eu o tiver ele não vai poder devolver aquilo que me levou...o brilho dos meus olhos...o preto dos cabelos...a cadência das artérias...o gosto pela vida...a minha coerência...e as minhas esperanças.

Deus tem esperança no homem, o homem procura algo bem melhor que a si mesmo e o homem corre atrás do dinheiro sem perceber que, por isso mesmo, tem que pagar um preço alto demais.

A clausura de Armstrong, imagino eu, deve ter sido causada pelo que chamamos de distanciamento. Lá na lua, a quatrocentos mil quilômetros da Terra, ele se maravilhou com o universo e achou a nossa casa pequenina. Deve ter pensado na finitude e na pequenez da raça humana. Talvez tenha tido vontade de ligar para alguém de que gosta muito e dizer, simplesmente: eu gosto de você, não se esqueça disto. Ou ligar para alguém que está brigado com outra pessoa e falar: façam as pazes, a vida é pequena, vamos nos dar as mãos. Quando voltou, não conseguiu contato com quem gostaria de falar porque as pessoas em que pensou não tiveram o distanciamento para chegar as mesmas conclusões que o astronauta, sobre a vida boa, de paz e conciliações. O distanciamento consegue fazer perceber a possibilidade de driblar nossas diferenças, aproximar o melhor de nós e deletar os podres de cada um. Mas, que merda, a gente não consegue, não é ? Então, frustrado pelo fato de que o homem insiste em ser menor do que o projetado, ele optou pela clausura, pela leitura de seus livros e por filmes de ficção, principalmente aquele em que tem uma placa que diz que em algum lugar do universo deve existir alguma coisa melhor do que o homem.

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