Após 14 anos atendendo usuários de droga e álcool, a comunidade terapêutica mais antiga da região Norte do Estado passa por sérias dificuldades financeiras e corre o risco de encerrar as atividades. Com um déficit de aproximadamente R$ 5 mil mensais, a direção da Casa Maanaim, instalada na localidade de Água Santa, distante cerca de 40 quilômetros de Passo Fundo, anunciou não ter mais condições de manter a atual estrutura. Presidente da entidade desde sua fundação, o delegado da Polícia Federal, Mário Luiz Vieira, classifica o momento como a 'pior crise’ enfrentada pela entidade em quase uma década e meia de existência, e vai além. “Nunca passamos por uma dificuldade como agora. Se a situação não mudar, fecharemos em três meses” decretou.
A crise, segundo ele, se agravou a partir de janeiro deste ano, com a suspensão de um convênio de 20 vagas mantido com o Serviço Único de Saúde (SUS), e depois que o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), órgão ligado à Secretaria Municipal de Saúde, adotou a medida de somente encaminhar pacientes para as comunidades terapêuticas após a fase de desintoxicação. “Depois de passar 10 ou 15 dias internado, o usuário sai fortalecido do hospital e evidentemente não quer mais seguir o tratamento numa comunidade. Ele volta para a rua e cai novamente no uso do crack. A internação tem que ser feita no momento em que ele manifesta o desejo de se curar. Isso é básico” diz Vieira.
Além de acirrar o debate sobre o método de tratamento do dependente, a decisão teve impacto nas finanças da Maanaim. Pelo convênio mantido com a Prefeitura Municipal, a entidade disponibiliza 10 vagas para internação com um custo mensal de R$ 800 por pessoa durante seis meses. Diretora executiva da entidade, Xiomara Inês Oldenburg Vellas, afirma que, apenas metade das vagas está sendo preenchida desde o início do ano. “Temos uma estrutura com médico, enfermeiro, psicólogo, diretor, além da alimentação e manutenção. Um custo mensal de aproximadamente R$ 20 mil. Sabemos da quantidade de dependentes necessitando de internação em Passo Fundo, no entanto, as vagas estão sobrando aqui” comenta.
Para o presidente do Conselho Municipal Sobre Drogas de Passo Fundo, pastor Selmir Fagundes, exigir a desintoxicação para usuários de crack antes da internação é um ‘tiro no pé’. A dificuldade, diz, começa pelo número reduzido de leitos nos hospitais para atender a demanda. Conforme o Caps AD, são 12 no Hospital Municipal e 35 no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. “O paciente fica na rua, assaltando, roubando em busca de dinheiro para conseguir a droga, enquanto poderia estar numa comunidade. Trabalho há mais de 10 anos com essa questão. Não conheço nenhum dependente que está em pé (sem usar a droga), há três ou quatro anos, sem ter passado por um trabalho espiritual numa comunidade terapêutica. Sei que existe muita desistência do tratamento, mas se ele não voltar a ser internado, a possibilidade de recuperação não existe” ressalta.
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Maanaim em crise
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