OPINIÃO

Tabagismo é doença de adulto ou pediátrica?

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O tabagismo causa dependência química como outras drogas quaisquer e está na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substância psicoativa.

Além de tratar-se de uma doença, corrobora com outra meia centena de diferentes doenças incapacitantes ou fatais: infarto agudo do miocárdio, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), doenças cerebrovasculares, câncer e tantas outras.

Mata 5 milhões de pessoas anualmente no mundo. No Brasil são 200 mil mortes anuais. Se a atual tendência de consumo se mantiver, em 2020, serão 10 milhões de mortes por ano, culminando dessa forma com mais mortes do que a soma das mortes por alcoolismo, AIDS, acidentes de trânsito, homicídios e suicídios juntos.

Além das complicações do tabagismo ativo (direto no fumante) há a indesejável complicação de danos diretos às outras pessoas, ou seja, o tabagismo passivo (causado pela exalação da fumaça do cigarro do tabagista). No momento em que uma pessoa é submetida ao tabagismo passivo em ambientes fechados, têm um risco 30% maior de desenvolver câncer de pulmão, 25% maior de desenvolver doenças cardiovasculares, além de asma, pneumonia, sinusite, dentre outras. O tabagismo passivo é a 3ª causa de morte evitável no mundo e o maior responsável pela poluição em ambientes fechados.

Dando asas à imaginação poderemos dramatizar o triste espetáculo de uma mãe ou pai, ou outro qualquer, fumando no mesmo ambiente habitado por crianças, em fases ainda de formação dos delicados alvéolos de seus pulmões e as consequências futuras deste ato culposo. Ou, ainda, de forma mais objetiva e direta, uma gestante fumando e inalando os resíduos tóxicos que rapidamente atingem a circulação sistêmica da mãe e passando a barreira placentária comutam com o sangue do feto os produtos inalados pelo hábito nocivo.

Referente ao início do hábito tabágico os estudos assinalam para a idade dos 15 anos. Baseado nessas informações podemos afirmar que é um problema que deve ser encarado pelo pediatra.

Por outro lado, pode-se considerar uma doença de caráter crônica, com consequências de morbimortalidade tardia: assim encarada como doença da medicina do adulto.

Liberto das mazelas das classificações, enfim, podemos deduzir que se trata de uma doença, como tal deve ser tratada e abordada, por todos os médicos, independente da especialidade. E, de forma ainda mais ampla, com resultados satisfatoriamente maiores quando cuidada de forma multidisciplinar, trocando conhecimentos e ampliando saberes entre as áreas.

Vencidos os preconceitos e encarada como doença pelos profissionais é um vício difícil de ser banido, com recaídas não raras, porém com resultados compensadores quando diagnosticada e abordada de forma correta.

Julio César Stobbe é coordenador da emergência e vice-diretor médico do HSVP

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