Na rua fala o povo
O momento indica que é muito cedo para conclusões sobre as manifestações que ocorrem nas ruas do país. Principalmente porque o povo entendeu que não é possível melhorar o destino da pátria sem as mãos da gente mesmo. Da forma mais direta possível. Tudo está a dizer que algumas coisas estão se transformando. E, embora cedo, arrisca-se a dizer que o país, depois da inesperada manifestação, à revelia dos partidos políticos, nunca mais será o mesmo. Por que isso? É que os mandatários, mesmo após juras de fidelidade, quando no poder, mudam de discurso. Não controlam mais a ganância, concupiscência e a corrupção. Voltam-se contra seus outorgantes do poder. É por isso que as pessoas vão entendendo que não basta dar o poder. É preciso também retirá-lo! Este é o recado da manifestação pública, nas ruas. O lugar de manifestações, através de agentes constituídos pelo voto, procuradores populares, deputados, prefeitos, governadores e vereadores ou presidente seria nas instituições mantidas por todos nós. Mas não é nos parlamentos que a confiança popular quer se expressar. É nas ruas.
Corregedoria da rua
Se a forma representativa não deu resposta satisfatória, usa-se a rua para dizer que tudo deve ser revisto. É a forma de correção que não funcionou com os poderes constituídos, eleitos ou não, com os fiscais, polícias e tribunais de contas pagos para isso: é a suprema corregedoria – corregedoria da rua!
Juventude
Temos que considerar a existência da geração de jovens no Brasil, que vivencia momento muito denso de informação, especialmente com a poderosa ferramenta que é a comunicação eletrônica em suas múltiplas modalidades. Esta não é perfeita por ser insipiente, mas atordoa qualquer pretensa “segurança” de dominação. Lembremo-nos que o jovem aspira por espaço. Vê o abismo das diferenças escancarado em quase todos os lugares. O jovem considerado dos 18 aos 30 anos, 23% pertence à classe C, cuja renda é de R$ 219,00 a R$ 1.019,00. Nesta faixa, de cada R$ 100,00 ele investe R$70,00 na subsistência do núcleo familiar. Resta analisar o convívio com os pais, onde este jovem emergente é menos conservador. Há, portanto, uma fricção de momento histórico. Explicando: hoje 49% desta faixa aprova o casamento gay, contra considerável resistência mais severa do restante da família. Então, temos uma composição familiar que naturalmente apresenta maior atrito, agregando a angústia financeira e profissional num mesmo rastilho de pólvora, pronto para explosão. A Cara do poder político ou institucional é repudiável ao raciocínio emergente. Isso tudo tem a ver com a eclosão nas ruas.
Paridos estão mal
A expectativa da sociedade está frustrada diante dos desmandos históricos. Não é somente em relação ao PT, que precisa entender que não é o dono do país. A oposição também desagrada por não apresentar substância alguma como proposta para o momento. Observa-se que a mobilização não é contra o governo Dilma, que apresenta bom índice de resolução política, mas a falta de novas políticas mais claras que garantam seriedade mínima. Há índices confortantes, como do acesso ao nível universitário que se projeta mais do que razoável até 2014. Isso, no entanto, produz mais exigência. Cérebro alimentado com comida dos programas sociais, também produz desejos, alguns oníricos e até utopias necessárias para a florescência do país. Não se trata de praticarmos atos de distribuir culpa. As ruas dizem que as estruturas têm que funcionar, senão o povo volta a gritar. E vivam as ruas! Elas parecem dolentes ao amanhecer, mas são rubentes e severas no entardecer. Se nos fosse permitido parafrasear Napoleão: Milhares de séculos vos contemplam caminhos e ruas.
Retoques:
* A data de ontem lembrou a consolidação do Jornal O Nacional pelo nosso sempre legendário Múcio de Castro, que tivemos a honra de conhecer. ON é referência cultural no Estado.
* Concordamos que o custo da passagem do transporte coletivo urbano foi a gota d’água no levante que sacode o Brasil. Mesmo assim, melhores condições ao transporte coletivo é saída urgente para muitos conflitos que vão desde o direito à mobilidade à reconquista de valores, como o automóvel que já estão sufocando a vida de todos.