A onda de protestos que se arrasta pelo país desde o início da semana chegou a Passo Fundo. Pelo menos seis mil pessoas, segundo estimativas da Brigada Militar, enfrentaram a chuva e o frio para participar do sexto ato contra o aumento da passagem de ônibus. A manifestação, considerada uma das maiores na história do município, mexeu com a rotina da cidade. Escolas, prefeitura, comércio e outras entidades prestadoras de serviços encerraram as atividades mais cedo. Nenhuma ocorrência foi registrada durante o protesto. Um novo ato deve acontecer hoje, no mesmo horário e local.
Uma hora antes do início da manifestação, marcado para às 18 horas, ativistas já se concentravam no cruzamento da avenida Brasil com a rua Bento Gonçalves. Segurando cartazes, faixas, enrolados em bandeiras, usando máscaras e nariz de palhaço, eles rapidamente fecharam a área central da cidade. Do alto de um carro de som, um grupo tentava coordenar o ato, organizado, principalmente através das redes sociais, pelo Comitê dos Movimentos Sociais, formado por pelo menos 10 entidades. Os primeiros gritos de protestos em massa foram direcionados para algumas pessoas que ostentavam bandeiras de partidos políticos. “Não tem partido, não tem partido”, entoavam em coro, demonstrando o caráter apartidário da movimentação.
“Não vivi a ditadura mas não conheço a democracia”. A frase escrita numa cartolina preta representava o sentimento de uma estudante de 14 anos. “Estou aqui pelo meu país. Não é por 20 centavos, mas pelo direito de poder expressar o que penso. Vi os protestos na TV e senti um orgulho imenso do povo” diz a jovem, com a bandeira do Brasil sobre as costa e segurando uma rosa.
Ao som de ‘Pra não dizer que não falei das flores’ de Geraldo Vandré, hino de uma geração que lutou contra ditadura, os manifestantes partiram pelas duas pistas da avenida Brasil, em direção à Prefeitura. No trajeto, a música se alternava com os hinos nacional e do Rio Grande, e palavras de ordem direcionadas aos partidos políticos e ao aumento da passagem de ônibus concedido pelo executivo. Um ônibus, de papelão, chamado ‘Via lucro’ com a foto dos vereadores, e tendo o prefeito Luciano Azevedo e o vice, Juliano Rosso, no comando foi a maneira encontrada por um participante para demonstrar a insatisfação com o preço da tarifa que subiu de R$ 2,45 para R$ 2,70.
Os ativistas pararam por apenas alguns minutos em frente à prefeitura municipal. Um homem subiu no portão, que estava fechado, e ameaçou iniciar um discurso. Alguns jovens soltaram rojões no local, mas foram repreendidos pelos demais. “É pacífico, é pacífico” gritavam. Três deles, que chegaram a pular para o pátio da prefeitura receberam vaias. Os manifestantes retornaram para o centro da cidade. O ato encerrou com a fala de representantes de algumas entidades e a convocação para novo protesto hoje.