Assim como o Teste da Orelhinha que através da Lei Federal 12.303/2010 tornou-se obrigatório e de realização gratuita em todo o país; o pioneiro Teste da Linguinha está contemplado no projeto de Lei 4832/2012 que obriga sua realização em recém-nascidos. O projeto está em fase de tramitação. Já foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família e ainda deverá passar pelas Comissões de Finanças e Tributação, Justiça e Cidadania. O teste foi idealizado pela fonoaudióloga brasileira Roberta Martinelli e o projeto inclui a avaliação do freio da língua em bebês de hospitais e maternidades de todo o país. A cirurgia corretiva também está prevista.
É primordial compreender que a língua é um órgão altamente especializado que participa de funções importantes como sugar, mastigar, engolir e falar. Na sua face inferior ela possui uma prega de membrana mucosa que a conecta com o assoalho da boca, popularmente conhecida como “freio da língua”. Este freio/frênulo pode ajudar ou atrapalhar na sua livre movimentação. Atrapalha quando não ocorre o adequado desenvolvimento embrionário permanecendo um tecido residual que limita os movimentos da língua, notando-se um freio mais espesso, encurtado, ou com fixação inadequada dentro da boca. Essa anomalia oral congênita é conhecida como Anquiloglossia, podendo ocorrer de forma total ou parcial, limitando a movimentação lingual em vários graus. Quando um bebê nasce com esta alteração, provavelmente há outros casos na família, pois existe uma influência genética.
Mas por que é importante avaliar o freio da língua de um recém-nascido? Nos bebês, a amamentação se relaciona com o sugar e engolir, atos coordenados com a respiração, onde a língua participa diretamente de todas as funções. Deste modo, qualquer restrição à sua livre movimentação pode dificultar as funções orais, comprometendo a amamentação do bebê. Inclusive, alguns estudos na área revelam que essa dificuldade em amamentar pode ocasionar o desmame precoce, baixo ganho de peso, vindo a atrapalhar o desenvolvimento do bebê. Soma-se a isso, o fato de várias crianças com a famosa “língua presa” demonstrarem dificuldade em produzir determinados sons da fala que requerem a elevação da língua para a sua produção, como o som do /r/ chamado “ponta de língua” constante nas palavras /coração/, /barato/, etc.
O Protocolo de Avaliação do Frênulo criado por Martinelli é rápido, simples e indolor para a criança. Contempla questões sobre a história clínica, uma avaliação visual da anatomia da língua e a avaliação funcional da sucção não-nutritiva (sucção do dedo mínimo do profissional) e nutritiva (sucção do seio materno). A avaliação contém escores com escala progressiva de pontuação, e se constatada a interferência do freio nos movimentos da língua, o bebê é encaminhado para um procedimento simples e rápido onde se faz a incisão deste freio, chamado Frenotomia. O fonoaudiólogo é o profissional que faz a avaliação anátomo-funcional da língua aplicando o Teste da Linguinha, porém não realiza a Frenotomia, sendo usualmente feita por médicos e dentistas.
Não há uma estimativa precisa de quantos casos de língua presa existem, pois até pouco tempo atrás não haviam critérios padronizados para o seu correto diagnóstico. O Teste da Linguinha é uma avaliação rápida e não-invasiva, aplicado em crianças de 0 a 6 meses na intenção de diagnosticar a presença de língua presa e permitir uma ordenha de qualidade na amamentação do bebê, assim como minimizar ou eliminar futuras alterações nas funções da mastigação e fala. Não deixe seu filho sofrer com a língua presa. Procure um fonoaudiólogo para a realização do Teste da Lingüinha no seu bebê.
Stéfanie Rozin é fonoaudióloga