O Banco Central (Bacen), em sua luta para retomar a confiança do mercado e contra atacar a inflação deverá na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), sugerir a elevação da taxa de juros, provavelmente em mais um ponto percentual, para 9% ao ano. É um esforço cada vez maior da política monetária para um efeito relativamente pequeno, porque o resto do governo não ajuda. Basta observar que quando um órgão do Governo não funciona adequadamente, cria-se um novo órgão, uma nova empresa. Aqui no Rio Grande do Sul, o exemplo mais recente é a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), quando o Daer deixou a desejar, se criou uma nova empresa para administrar os pedágios.
No plano federal a presidenta Dilma Rousseff assinou (6) o projeto de lei que cria a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). O objetivo, segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, é garantir que produtores rurais aumentem a produtividade e renda por meio do acesso à assistência técnica e extensão rural em todas as etapas da atividade. Orçamento anual da Anater é de 1,3 bilhões. Pergunto, por que não potencializar a Embrapa? A Emater nos estados?
Volta-se ao tema da inflação, em junho, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou alguma perda de vigor, embora o avanço em 12 meses tenha saltado para 6,7%, para além da meta de 4,5% ao ano, mais o adicional de escape permitido, de dois pontos porcentuais. A falta de um Governo atuante na regulação dos estoques de alimentos fará com que tenhamos sérios problemas de oscilações de preços, pois o produtor rural vai plantar e produzir o alimento que possibilite maior retorno.
É verdade que o mercado prevê para este ano uma inflação em 12 meses abaixo dos 6%, ou de 5,67%, como aponta a Pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com cerca de cem instituições e consultorias. É, no entanto, um número alto demais comparado com a meta de 4,5%. Mais do que isso, concorre para que as expectativas permaneçam deterioradas.
Nesse campo, a principal missão do Banco Central não é propriamente garantir a virada das expectativas, algo que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem tentando à base de declarações infundadamente otimistas e o pior, longe da realidade vivida pelo povo e pelos empresários brasileiros. A missão do Banco Central é recuperar a credibilidade perdida ao longo de tantos meses de mistificações e de submissão ao voluntarismo da presidente Dilma, cujo principal objetivo de política monetária era, até abril, derrubar os juros, custasse o que custasse.
Por isso, desde então, o Banco Central deixou de vender ilusões, passou a reconhecer problemas, especialmente na condução da política fiscal, e a puxar pelo único instrumento de que dispõe: a política monetária (política de juros), que consiste em retirar dinheiro do mercado quando a inflação aumenta e em expandir a moeda quando acontece o contrário. Mesmo que seja eficaz nessa empreitada, não basta que apenas o Banco Central recupere credibilidade, se o resto da administração fica devendo.
Quem é que, depois de tanta alquimia contábil na execução das despesas públicas, acredita em que as metas fiscais, mesmo reduzidas por um PIB mais mirrado, sejam cumpridas pelos administradores da Fazenda?
Parece-me que o governo Dilma precisa de um choque de credibilidade e realidade, até mesmo para salvar seu futuro político. Até agora, no entanto, não há sinais de que tenha se sensibilizado para isso. Admitir erros ou equívocos não é a virtude da atual mandatária. E esse é o fator que mais compromete o sucesso da luta contra a inflação.