A demarcação de terras indígenas foi um dos principais pontos da pauta levada pelos agricultores familiares ligados a Fetraf- Sul, na manifestação que aconteceu ontem, em Passo Fundo, reunindo cerca de 300 pessoas. Depois da caminhada e do ato público no centro da cidade no início da manhã, os agricultores familiares da região Altos da Serra, Constantina e Sarandi dirigiram-se até a Funai. O objetivo do grupo é pressionar o órgão e a Justiça Federal a conceder o pedido de reintegração de posse de uma propriedade de Sananduva, invadida por cerca de 50 índios na noite de segunda-feira.
Inicialmente a proposta levantada pelos ativistas foi ocupar a superintendência da Funai, que estava de portas fechadas, e permanecer no local até que fossem recebidos e a reintegração de posse fosse expedida. Ao mesmo tempo, cerca de 1,5 mil agricultores realizavam um protesto em Sananduva na localidade de São Caetano, a cerca de 150 metros da propriedade invadida pelos índios. Com essa situação de acordo com o historiador Henrique Kujawa, a possibilidade de conflito na região é iminente. Conforme a Coordenadora Estadual da Fetraf-Sul, Cleonice Back, a organização é contra a demarcação de terras indígenas em áreas colonizadas a mais de 100 anos e propõem que os governos ofereçam outras áreas para que os povos indígenas sejam assentados. Ela salienta que, o grupo não visa apenas o beneficio próprio, mas avalia a causa indígena resolvida de um modo que não prejudique os agricultores familiares. Ela ainda afirma que seis manifestações aconteceram paralelamente no Estado.
Além de Passo Fundo e Sananduva, a Fetraf –Sul se mobilizou em Erechim, Antônio Prado, São Lourenço e na região Celeiro.
Durante a manhã houve a possiblidade de ocupação da Funai, contudo os agricultores esperaram até o início da tarde quando se reuniram e decidiram dar continuidade à manifestação sem ocupação. Com isso, amanhã uma comissão vai ser recebida às 10h em Erechim na Justiça Federal para debater a questão da reintegração de posse da propriedade de Sananduva. Já em Passo Fundo, agricultores de Mato Castelhano estarão fazendo uma vigília em frente a Funai. Em Sananduva o protesto em São Caetano deverá continuar até que a situação da família seja resolvida. Eles ainda prometem, caso a Funai não resolva a situação, usar artifícios menos pacíficos.
Por volta das 14h30 uma comissão de agricultores foi recebida pelo procurador da Funai, Marcelo Zeni. De acordo com ele, o coordenador regional da Funai Adir Reginaldo, não estava na cidade para recebê-los, pois havia se deslocado para o município de Cacique Doble. Zeni afirmou que as demandas dos agricultores seriam ouvidas e repassadas para que possa ser resolvida. A conversa que durou cerca de duas horas apresentou momentos de tensão. Os agricultores apontaram as irregularidades que ocorrem nas reservas indígenas e nas áreas invadidas. Também questionaram os estudos e os laudos, que para eles apresentam um caráter tendencioso e o posicionamento jurídico e político que a Funai adota na questão da demarcação, e salientaram que o principal quesito utilizado pelo órgão é o social deixando de lado o jurídico. Zeni colocou para o grupo que irregularidades devem ser denunciadas e afirmou que o órgão avalia a demarcação em cima de leis. Em resposta os agricultores falaram que as denúncias são feitas, mas nada acontece.
Questão agrária
De acordo com um dos coordenadores do movimento Marcio Cassel, de Sarandi, em todo o Rio Grande do Sul cerca de 30 mil agricultores familiares correm o risco de perder as terras. “A agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos. A demarcação das terras estará eliminando cerca de 10% da população do campo.” Ele ainda relata que as famílias recebem indenização do governo referente as benfeitorias realizadas na propriedade, já o título de suas terras perdem a validade e não ocorre a indenização.
RS
De acordo com Cleonice, o governo do Estado propôs conceder outras áreas para assentar os povos indígenas, contudo não foram aceitas por eles.
Sananduva
Em Sananduva as terras não chegaram a ser demarcadas, de acordo com o historiados Kujawa, elas foram declaradas terras indígenas, isso faz com que o processo seja acelerado. No município existem cerca de 3 cemitérios indígenas e agricultores com cerca de 12 a 14 hectares perderão as propriedades que foram adquiridas pelos seus avós do governo federal no passado.