Trabalhadores do campo e da cidade se unem em protesto

Surpresa do ato foi a paralisação de motoristas e cobradores de ônibus, que não circularam com os veículos durante todo o dia

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O Dia Nacional de Lutas com Mobilizações, Paralisações e Greves, reuniu aproximadamente três mil pessoas, no centro de Passo Fundo, na manhã de ontem. O número é praticamente a metade do ato realizado dia 20 de junho, quando cerca de seis mil manifestantes foram às ruas, sob frio e chuva, protestar contra o aumento da passagem de ônibus. Na paralisação de ontem, trabalhadores dos mais diferentes segmentos, vindos de diversas cidades da região, se concentraram no cruzamento da rua Bento Gonçalves com a Avenida Brasil. A adesão de motoristas e cobradores das três empresas de transporte público do município praticamente ‘parou’ a cidade durante todo o dia. Os ônibus intermunicipais deixaram de circular por volta das 4horas. O serviço seria retomado às 21horas.

A assembleia realizada por motoristas e cobradores marcou a abertura das manifestações em Passo Fundo. Por volta das 5h30min, os trabalhadores começaram a se reunir nos fundos da prefeitura municipal. Houve votação e, cerca de duas horas depois, foi anunciada a paralisação do serviço de ônibus. A decisão surpreendeu aos passo-fundenses e contrariou a informação fornecida no dia anterior pelo Sindicato dos Trabalhadores de Coletivos Urbanos de Passo Fundo (Sindiurb) de que não haveria paralisação. “Realmente não tínhamos indicação de greve. A categoria se reuniu para tomar conhecimento das reivindicações do protesto e decidiu aderir” disse o presidente do Sindiurb, José Duebber. A medida atingiu trabalhadores e estudantes. Muitos tiveram de se deslocar a pé ou de carona. A costureira Jaine Manhes, 38 anos, já estava na parada próximo ao trevo do bairro São José, quando soube da paralisação. Para chegar até o Hospital São Vicente de Paulo, onde trabalha, aguardava carona de uma colega. A maioria das lojas na área central permaneceu com as portas fechadas pela manhã.

Convocados pelos sindicatos, os manifestantes partiram de dois pontos extremos da cidade em direção ao centro. Um deles se formou no quilômetro 9 da RS 135. Por volta das 7horas, cerca de 400 integrantes da Via Campesina e MST, vindos de Vacaria, Esmeralda, Sarandi, Capão Bonito, Pinhal da Serra, Lagoa Vermelha e Cacique Doble, com apoio de representantes da ocupação Leonardo Ilha, bloquearam a rodovia, permitindo apenas a passagens de veículos oficiais e ambulâncias. O protesto durou aproximadamente uma hora e provocou engarrafamento nos dois sentidos da via.

No outro lado da cidade, aproximadamente 500 trabalhadores da agricultura familiar se reuniram no trevo da caravela, saída para Porto Alegre. Eles protestavam contra o emplacamento de máquinas agrícolas e a demarcação de terras pelas Funai. Os dois grupos saíram em caminhada e se encontraram no centro da cidade.

Reivindicações
O grande encontro na área central durou cerca de duas horas e reuniu mais de uma dezena de diferentes setores da sociedade, com pautas comuns e específicas. Um grupo de 18 integrantes do Sindicato da Alimentação, que havia saído na madrugada de Serafina Correa, pedia pelo fim do fator previdenciário e reajuste dos aposentados igual ao salário mínimo. Com faixas e cartazes, representantes do Sindicato da Saúde (Sindisaúde) lutavam pelo investimento de 10% da União no setor, jornada de 30 horas semanais, e pelo piso nacional para técnicos de enfermagem. Já o CPERS cobrava o piso nacional para os professores.
Representante do Sindicato dos Metalúrgicos, Ailton Araújo fez um balanço positivo da greve. “Foi dado o recado. A grande adesão dos setores mostra a indignação dos trabalhadores. Fizemos um ato democrático e pacífico” comentou.

Prefeitura
Após as manifestações na área central, alguns grupos seguiram em caminhada até a Prefeitura Municipal em apoio aos 20 ativistas que ocupam o plenário da Câmara de Vereadores desde segunda-feira. Sem poder sair do prédio, os ativistas se comunicaram através de uma janela ao lado da rampa de acesso. Eles prometem permanecer no plenário enquanto não tiverem as três reivindicações (realização de uma audiência pública, instalação de uma CPI para apurar a fraude nas catracas da empresa Codepas, e mudança no horário das sessões) atendidas. “Queremos a assinatura de 12 vereadores se comprometendo em atender essa pauta. Se isso não acontecer, só sairemos daqui com a polícia” disse um dos manifestantes. O prazo de desocupação dado pela presidência da Câmara de Vereadores termina na manhã de hoje. Caso contrário, a presidência do legislativo deverá ingressar na Justiça com pedido de reintegração de posse. Em solidariedade à ocupação, outro grupo, de aproximadamente sete jovens, anunciou que passaria a noite na rampa em frente ao prédio.

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