Caminhando à noite em direção ao hospital olho ligeiramente para o interior da lanchonete e vejo o cidadão segurando um pastel e que tem seus olhos fixados na TV. Percebo pelo espelho que é a hora da novela e ali está o personagem do excelente Mateus Solano, o afeminado Félix, sarcástico, sádico e refinado. Será punido no final, como se sabe, mas, tal qual Don Vito e Michael Corleone, choraremos sua morte e não sei explicar a razão disso. O cidadão ao comer pastel, come o que pode ou dá para comer em razão do tempo disponível. Deve ser um comum como a maioria de nós, que luta, trabalha, sonha e que ao se entreter na TV, novela ou futebol, foge um pouco de seus dramas, pequenos ou grandes. Em instantes sente-se no mundo da riqueza ou da glória. Talvez não goste de assistir ao noticiário que de rotina é sangrento. Estampa, o jornal, notícias de roubalheiras, pessoas safadas, gritos nas ruas, estradas bloqueadas, balas perdidas, discursos messiânicos, aumento da inflação, queda no PIB. Não lembra nem em quem votou nas ultimas eleições e pensa que politico e tudo igual.
Sobre a pena de morte ele é a favor. Sim, quer pena de morte para os bandidos porque a pena de morte já existe para o cidadão assaltado e executado com um tiro na cabeça tal qual aquele menino boliviano. Sobre a discussão da maioria penal, ele entende que a penalização tem que ser pelo tipo de crime que cometeu e não pela idade do meliante. Entende que há quarenta anos um menino de quinze queria mais era escrever letras de musicas românticas em seu caderno e ouvir o futebol pela Rádio Guaíba o domingo inteiro. Esse inocente garoto de quinze podia não saber dos perigos da vida, mas tinha discernimento entre o certo e o errado e, portanto, é responsável pelos seus atos.
Dizem que o gigante acordou, que nada será como antes. O governo parece perdido. Dona Dilma quer trazer médicos cubanos cujos pagamentos pelos serviços prestados irão para Cuba, modelo democrático de país e será repassado aos médicos. Agora, parece que não quer mais cubanos. Se a saída fosse simplesmente trazer mais médicos tudo seria fácil. E a mesma coisa pensar que no incêndio do Mercado Público de Porto Alegre a solução simples era somente ter mais bombeiros, sem escadas Magirus, mangueiras que funcionem, hidrantes e equipamentos de proteção. Não satisfeita e sem respostas adequadas aos gritos das ruas quer estender a duração da faculdade de Medicina para oito anos criando o serviço civil obrigatório sendo que e uma atitude inconstitucional visto que o único serviço obrigatório previsto é o militar. Trata-se de disponibilizar mão-de-obra barata aos confins do país sem estruturar condições e sem explicar quem supervisionará a atuação dos jovens médicos. Sobre a inflação, a queda do PIB nem uma palavra.
Em 1989, um maravilhoso artigo de Luís Fernando Verissimo, ocasião em que foram para o segundo turno das eleições presidenciais Fernando Collor e Lula, versou sobre a hora do louco. O louco era um centroavante bizarro, bruxo do técnico. O técnico entendia o futebol como lógica e perseverança. Ensinava táticas e estratégias, chutes em diagonal, laterais que avançavam, triangulações rápidas. Tudo era logico, mas até os quarenta do segundo tempo. Se nada funcionasse era chegada a hora do louco. Bota louco na área e cruzem todas as bolas possíveis para ver o que vai dar, orientava no desespero. Com o governo Dilma fazendo água, li em jornais de São Paulo, que há um movimento clamando fora Dilma - volta Lula e não sei bem porque lembrei da crônica de Veríssimo.