Há muitos anos li numa entrevista da revista de mulher pelada chamada Ele-Ela, uma sacada de um brasileiro que morava na europa. Ele referia que fulano havia lido o livro e que beltrano não havia lido. Demorei para compreender o que ele queria dizer, mas captei. Ler o livro nada mais era do que ler o livro da vida, interpretar os acontecimentos. Não acredito no destino, que tal coisa era para ter acontecido porque estava escrito que assim seria. Acredito que a gente pode fazer acontecer ou não, a gente faz o destino. Minha mulher e eu, por exemplo, não foi o destino que juntou-nos, fizemos e fazemos dar certo por construções diuturnas.
O casal, para acontecer, abre mão de manhas, de vícios, de algumas particularidades para viver o que pode ser comum a dois. Não necessariamente foram feitos um para o outro, construíram o um para o outro porque aprenderam a ler o livro, aquele que ensina o que deve ser importante, aquilo que pode ser deletado, o que pode e deve ser esquecido e o que nunca deveria sair da mente. Os casais que se amam crescem nas adversidades, dão-se as mãos, solidarizam-se porque um para o outro é a prova de são importantes. A gente precisa estar com alguém porque esse alguém que está tão perto é a ratificação de que, pelo menos para uma pessoa a gente tem a importância que julgamos ter.
Li o livro da vida pela primeira vez quando, em companhia de meu primo conhecido como Tena, cujo apelido nunca soube compreender, aprendi a nadar. Não sabia nadar porque tinha medo de colocar a cabeça sob a água. Meu primo, na Panelinha, em Cruz Alta, um local turístico de minha cidade natal, fechou as narinas e submergiu. Eu fiz o mesmo porque se ele podia eu também poderia. Então, ele repetiu a manobra sem pressionar as narinas. Fiz o mesmo. Por fim, ele jogou uma pedra na água e disse que a captaria pois ao submergir abriria os olhos embaixo d’água. Ele o fez e eu também o fiz.
Poderia ter sido uma aventurazinha fortuita se eu não tivesse aprendido que muitas das minhas supostas limitações eram pelo fato de não ter ao menos tentado superá-las. Assim também aconteceu com as duas primeiras namoradas que me deram pé na bunda , pois ao ler o livro de meus namoros, percebi que as falhas foram minhas e não mais errei daquelas formas em outros amores que vieram. A gente lê o livro diariamente nas nossas profissões, mas seria adequado ler nas nossas vidas pessoais.
Falando em leitura, são tantos os periódicos à disposição, uns contra e outros a favor do governo que quem lê um só fica com opinião distorcida. Afinal, onde está a verdade ? Que notícia é falsa ou verdadeira, ou mais ou menos falsa ou mais ou menos verdadeira. Veja essa manchete: “Papa mata criança na Itália”- logo abaixo vem a explicitação – uma papa muito concentrada de maizena matou um criança numa creche em Roma. Outra manchete: “Pelé preso por estupro em São Paulo”. Explicação: Luis Carlos da Silva, vulgo Pelé, foi preso na Freguesia acusado de molestar sexualmente uma menor de idade.
Ler o livro significa aprender corretamente o contexto e não se deixar seduzir pela impressão inicial e sir comprando o que não é. Boa leitura.