OPINIÃO

Como e para onde vai a saúde do Brasil?

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 O Brasil, nas últimas décadas vem apresentando modificações importantes no perfil sociodemográfico de sua população. A chamada transição demográfica fez com que a quantidade de idosos em nosso país aumentasse de forma vertiginosa. Em 20 anos (de 1980 a 2000) a população de idosos cresceu 107% ao passo que de jovens de zero a 14 anos o aumento foi de modestos 14%. A perspectiva futura é ainda mais preocupante, ou seja, para o ano de 2050 o primeiro grupo ultrapassará os 22%, enquanto o segundo será de aproximadamente 13%.

As melhorias das condições de vida fizeram com que a expectativa de vida aumente de forma progressiva, não somente em nosso país, mas como um fenômeno mundial. Fatores como redução da mortalidade infantil, redução de óbitos por doenças infectocontagiosas, melhoria das condições de saneamento básico, de acesso à saúde, à alimentação, à imunização, reduzissem os índices de mortalidade geral e culminassem com o fenômeno da transição demográfica.

 O simples aumento da expectativa de vida, no entanto, não garante uma senescência saudável. Em média, em nosso país, os idosos vivem, aproximadamente, 22 anos com doenças. Isso mesmo, doenças que são em torno de três e os acompanham ao longo de seus dias.

O aumento do número de idosos, somado com o aumento de anos vividos (com doenças), aliado ao crescimento de novas tecnologias (sejam elas de diagnósticos ou de tratamento, como medicamentos, órteses e próteses, etc) acabam sobrecarregando os limites de recurso dos planos de saúde e do próprio sistema público (lê-se SUS: Sistema Único de Saúde).

Em nosso país, os recursos gastos com saúde, ao contrário do que reza a constituição, ainda provém das famílias, ou seja, aproximadamente 58% dos gastos com saúde são desembolsados pelas famílias, enquanto que aproximadamente 40% ficam aos encargos da saúde pública. Em países considerados ricos, os gastos das famílias são em torno de 30% e do sistema público 70%.

E a fonte dos recursos gerais do país, incluindo aí a saúde, obtidos de impostos, transações, enfim da força viva do trabalho tem uma limitação importante: o número de jovens cada vez menor! Atualmente a média de filhos por casal, no Brasil, é de 1,8.  Ainda, deveremos considerar que o grupo jovem (15 a 39 anos) é aquele que mais morre por causas externas: Por exemplo, em 2009, somados acidentes de trânsito e homicídios, foram 131 032 óbitos, excetuando-se os sequelados desse contingente.

Isso, reportando-se somente à frieza dos números. Ficam, ainda, submersos nesse impasse a carência de profissionais, a má gestão dos recursos, os desvios e outras tantas nuanças.

O futuro então é preocupante e certamente a melhora da gestão pública será o principal foco de ação em função da necessidade de gerenciamento adequado dos recursos que serão a passos largos cada vez mais exíguos.



Coluna do médico Julio Stobbe, coordenador da emergência e vice-diretor médico do HSVP.

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