Motivos para a desconfiança não faltam, os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, da Fazenda e do Planejamento, anunciaram cortes de gastos. Em relação às despesas de custeio, o governo informa que reduzirá viagens, conta de luz, papel, material de limpeza. Nos últimos dois anos, prometeu a mesma coisa. Porém, os gastos com passagens aéreas e diárias no primeiro semestre, por exemplo, saíram de R$ 615 milhões em 2011, para R$ 882,5 milhões no ano passado para R$ 942 milhões este ano.
O fraco arrocho fiscal e a forte injeção de capital nos bancos federais desde os primeiros dias do governo Dilma Rousseff já produziram pelo menos um efeito indesejado na economia brasileira: a relação entre o endividamento total do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB), importante parâmetro de solidez da economia, saltou preocupantes 5,05 pontos percentuais. Em janeiro de 2011, esse indicador batia a casa dos 54,06%. Em fevereiro de 2013, último dado disponível, marcou 59,11%, os dados foram retirados do relatório do Ministério da Fazenda.
Ainda em maio deste ano, o ex-ministro Delfim Netto escreveu um artigo para o jornal Valor com o título Confiança, confiança e confiança. O economista apontava a semente da falta de confiança que crescia entre governo e iniciativa privada e entre o governo e o poder legislativo. Então em junho, a mobilização de pessoas considerada uma avalanche nas ruas das cidades brasileiras, que foram para a rua protestar contra TUDO, acabou por desnudar as mazelas nos serviços essenciais brasileiras e desmascarar a propaganda oficial.
Diante dos fatos narrados, lembrei-me do “pai” da economia Adam Smith que por meio dos seus trabalhos de 1759, na “Teoria dos Sentimentos Morais, e em 1776, na Riqueza das Nações, onde o autor afirma que esse complexo sistema de relações está apoiado num fato fundamental: a existência da “confiança” entre os agentes. Na relativa certeza de que cada um cumprirá as suas promessas (os seus contratos) porque é do seu interesse.
Se a confiança diminuiu os agentes deixam de responder aos estímulos, os mercados se degradam e o nível de atividade se reduz”. O caminho percorrido para que a desconfiança prevalecesse sobre a confiança, chame-se alquimia contábil. Essa alquimia foi patrocinada pelo Ministro Mantega e pelo Secretario do Tesouro Nacional Arno Augustin, que forçaram o mercado, bancos e consultorias a estabelecerem cálculos próprios para medir a real situação do quadro fiscal brasileiro. Todos esses atores consideram os efeitos das manobras patrocinadas pelo governo e consideram apenas o número que julgam ser o mais próximo da realidade para avaliar as contas públicas.
Também o diplomata Paulo Roberto de Almeida credita essa desconfiança a alquimia contábil na condução das políticas econômicas do atual governo. "Basicamente, o Brasil abandonou o tripé que balizou o crescimento durante anos: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário". Para restabelecer a confiança, o governo ousou: desistiu de uma das várias alquimias fiscais que tem feito nos últimos tempos nas contas públicas. Ou seja, o que foi bom foi o que não fizeram, o que desistiram de fazer.
Em tempo, o povo brasileiro manda para os cofres 37% do PIB em pagamento de impostos e, mesmo assim, o governo fecha no vermelho e a dívida pública bruta tem aumentado, de 53% para 59% do PIB. Ou seja, nós pagamos muitos impostos, mas eles não são suficientes e a dívida aumenta. É por isso que o governo tem que controlar seus gastos, como qualquer família que gasta muito. A parte chata da desconfiança é que ela é teimosa e gulosa. Ela vai engordando se perceber que não tem ninguém tomando conta da “mesa” da economia. Em sendo assim, o coro petista pelo volta Lula só tende aumentar. Quem viver verá.