Diário de um peregrino

Por Sammara Garbelotto/Especial ON

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Quando me inscrevi na JMJ, fiz isso como peregrina e como imprensa. Hoje, quase no fim do evento, percebo que a credencial de peregrino me trouxe mais possibilidades que a da imprensa. Como peregrina, vivi em uma cidade que eu não conhecia. Vivi com um grupo que eu não conhecia. Vivi numa família que eu não conhecia. Como peregrina eu pude encontrar a realidade do Rio de Janeiro, a realidade das pessoas, a realidade da Jornada e a realidade da minha fé. Explico: 

Quando o nosso contato com algo acontece, apenas, pela televisão há a ilusão de encontrar exatamente aquilo que vimos. Como futura jornalista, cometi o pecado da omissão: esqueci que a televisão é feita através da arte da edição e entrei no ônibus com a expectativa de encontrar a Cidade Maravilhosa. Não encontrei. Encontrei, na verdade, uma cidade onde os seus habitantes passam metade da vida dentro de ônibus, trens ou ônibus. Encontrei uma cidade onde o maravilhoso está, somente, em uma zona e as outras são, literalmente, esquecidas. Encontrei uma cidade que busca acolher o Papa - tentando parecer simples, porque ele assim o é, e, ao mesmo tempo, tentando mostrar que é capaz - e esquece de acolher aquele que vive aqui. Não vi um Rio de Janeiro preparado, mas aprendi a ver a realidade não apenas de uma cidade, mas de um país.

Ao mesmo tempo que o lugar onde estou alojada é uma comunidade não pacificada com proteção dos traficantes e que, por vezes, pode ser vista, na televisão, como um lugar perigoso e sem segurança, as pessoas que por aqui vivem são capazes de nos fazer confiar nelas em poucos minutos. Não, uma comunidade não pacificada não é perigosa. Perigoso é enfrentar o mar de gente que se acumula nos metrôs. Passamos nas ruas e as pessoas nos perguntam: “vocês são a juventude do Papa? Sejam bem-vindos!”. Fomos muito bem acolhidos, fomos muito bem tratados e a Jornada Mundial da Juventude já foi uma experiência de acolhida por isso. Jesus Cristo se faz presente nessas pessoas que acolhem a diferença sem nem ao menos questionar ou julgar qualquer crença.

Henrique e Glaucia, o casal que nos acolheu gravou todos os Atos Centrais. Foi assim que eu vi a Jornada Mundial da Juventude. O discurso do papa, na cerimônia de acolhida, ouvi pela metade já que o som, em Copacabana, parece escolher os momentos em que vai funcionar. A Jornada Mundial da Juventude, para mim, foi vivenciada nas ruas, no metrô, nos trens, nos ônibus. A Jornada Mundial da Juventude são os peregrinos; esses que olham a mochila ou a bandeira e fazem questão de cumprimentar, sorrir e perguntar de onde venho. As atividades em si não são bem organizadas ou a organização foi superada pelo número de peregrinos que se acumulam. Pouco se vê. Pouco se ouve. Muito se sente.

Vim para observar e contar algo. Mas não pude, de forma alguma, fugir do sentimento que o evento proporciona. Minha fé, certamente, encontrou desafios a serem vencidos e um compromisso a ser assumido. Ao ouvir o pedido do Papa para que botássemos fé na nossa juventude, na nossa vida, para mim, a Jornada se concretizou como uma experiência extremamente importante para a concretização de uma ação que se centra, também, na fé da Igreja. Francisco veio e trouxe consigo a esperança de uma renovação necessária. Renovação da Igreja e renovação pessoal - sim, a Jornada, apesar de qualquer coisa, será capaz de renovar a Igreja e de renovar o jovem. Será capaz de renovar a fé de alguém que, assim como eu, havia se esquecido da crença no meio do trabalho, da faculdade e da ação comunitária que, muitas vezes, foi mecânica.

Obrigada Francisco. Obrigada por assumir a direção de uma Igreja que precisa de novos rumos; rumos, esses, que somente você, na sua humildade, seria capaz de dar. Obrigada Francisco pelo ânimo que coloca nos jovens, pelo fôlego que inspira, pelo amor que é capaz de transmitir. Os jovens estão contigo, a Igreja, também. Estamos com Francisco porque sabemos que, sim, é ele o enviado de Jesus. Quem mais seria capaz de movimentar tanta gente em busca de palavras? Sim, Francisco, nos rendemos a ti porque tu és capaz de nos mostrar a face do próprio Cristo.

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