O coração do mundo está aqui

Depois de quatro dias de intensas atividades, a Juventude do Papa vive um final de semana de encontro pessoal com a fé

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As atividades da Jornada Mundial da Juventude, até a quarta-feira, têm sido uma forma de diminuir a espera pelo Papa Francisco. Sim, a Juventude do Papa o aguarda e anseia por suas palavras. Quando ele finalmente aparece, o mundo se rende. A quinta-feira, dia da chegada do chefe da Igreja ao Rio de Janeiro, ainda amanheceu cinza. Ainda assim, para cada jovem que chega por aqui, o tempo, a chuva e a umidade pouco importam. Importa, sim, a chegada de Francisco e aquilo que ele tem para dizer a sua juventude. O grupo peregrino de Passo Fundo migrou para Copacabana ainda de manhã. Junto com ele, a cidade inteira. O mundo inteiro parou para se preparar para a chegada de Francisco. No Rio de Janeiro, foi feriado e, por isso, cariocas tornaram-se, também peregrinos e, lado a lado do globo - que se reúne nas ruas do Rio - lotaram a praia de Copacabana para ouvir, ver e sentir a chegada de Francisco. 

Os meios de locomoção - que já são extremamente difíceis por aqui - tornaram-se, na quinta, ainda pior. A organização da Jornada pediu aos peregrinos que, na quinta e sexta-feira, os cartões de transporte fossem trocados, em função do feriado. Impossível. Milhões de jovens estão no Rio de Janeiro e não há qualquer estrutura para que todos os jovens pudessem trocar os cartões.

A estação de metrô virou um mar de gente que esperava as catracas que dão o acesso ao terminal abrirem. Fechadas, foram capazes de acumular milhares de jovens, amontoados em um lugar abafado. “Libera, libera, libera!”, a multidão gritava. Quando abertas, a confusão foi pior: grupos - que por aqui formam filas de mãos dadas - tentavam passar pela mesma catraca e encontrar-se perto do metrô. A preocupação em manter o grupo unido, por vezes, não permite a mobilidade da multidão, mas, ainda assim, se não for em filas e de mãos dadas, as pessoas são, literalmente, levadas pelo movimento. E, nesses momentos onde a falta de organização e estrutura ficam mais evidentes, a fé do jovem cresce: gaúchos de Gravataí deram início ao coro que pedia à Maria proteção. Na estação, na espera pelo metrô, jovens do mundo todo rezavam Ave-Maria e pediam, cada um a seu modo, na sua língua, no seu pensamento e com a sua voz, um pouco mais da presença de Deus.

O mundo se rende ao Papa
O grupo de Passo Fundo chegou às 12h na praia de Copacabana. A chegada do Papa Francisco foi às 18h e, além daqueles que acamparam na praia, Copacabana já estava repleta de pequenas rodas que, pouco a pouco, usavam bandeiras e mochilas como uma forma de marcar um pedaço de areia onde pudessem aguardar o Papa e, depois, vê-lo. O caminho reservado para o passeio com o papamóvel demonstrava pessoas agarradas as grades como numa tentativa para chegar um pouco mais perto de Francisco.

As tentativas de marcar um espaço se mostraram, mais tarde, inúteis já que a praia foi tomada por dois milhões de pessoas que tinham a mesma vontade: enxergar Francisco, receber sua bênção e sentir-se, um pouco mais, tocado por Deus. A espera, durante a tarde, impediu que muitos jovens almoçassem já que qualquer saída do grupo era um desafio. A multidão se multiplicou rapidamente e logo não haviam mais espaços.

A juventude é, sim, do Papa, mas ele, Francisco é, também, dos jovens e no primeiro sinal de sua chegada a juventude respondeu com amor. Nos telões, as imagens do helicóptero mostravam a delegação que o acompanhava descendo os degraus. Na multidão, silêncio. Quando ele, o Papa Francisco, apareceu, o coro já estava ensaiado: “Papa Francisco, juntos em Cristo”.

O caminho percorrido, de uma ponta da praia à outra, foi banhado a gritos, bandeiradas e tentativas para chegar um pouco mais perto do Sumo Pontífice. Ele se mostrou próximo, acolhedor, disponível. Francisco é o que a Igreja precisa ser: próxima de uma comunidade que busca encontrar espaço. No trajeto, Francisco mostra que quer, de fato, ser próximo. Tomou chimarrão, beijou crianças e acenou para a multidão que esperava, apenas, um olhar.

No discurso de acolhida, Francisco chamou os jovens de guerreiros. “Vocês mostram que a fé de vocês é muito mais forte que o frio e a chuva”, iniciou ele. Na multidão, as bandeiras foram colocadas para o alto e na ponta da língua a juventude se colocou à disposição do Santo Padre: “Esta é a juventude do Papa”, gritavam. O evangelho lido, que relata a transfiguração de Cristo, foi a justificativa para que Francisco mostrasse à multidão a importância de acreditar em Cristo, acreditar na Igreja e, de fato, se colocar à disposição do amor de Cristo. “Se por um lado é Jesus quem nos acolhe, por outro também nós devemos acolhê-lo, ficar à escuta da sua palavra (...)”.

Francisco relembrou a preparação que os jovens vivenciaram com a peregrinação da Cruz da Jornada nos encontros do Bote Fé. Ele questionou os jovens sobre como se pode acolher a Jesus. E ele mesmo respondeu: “Bote fé. O que significa? Quando se prepara um bom prato e vê que falta o sal, você então bota o sal; falta o azeite, então bota o azeite... Botar, ou seja, colocar, derramar.” Explicou ele. Ao longe, a juventude ouvia as palavras do Papa entre as caixas de som e o via pelos telões. Ele, com um sorriso no rosto, olhava para a multidão, mexia as mãos - numa forma de enfatizar cada palavra - e falava, exatamente, o que a juventude, cansada e com frio, esperava e precisava ouvir: “É assim também na nossa vida, queridos jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: bote fé e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; bote esperança e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; bote amor e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. Bote fé, bote esperança, bote amor! Bote tudo junto!”, riu ele.

Francisco traz ao jovem fôlego e ânimo novo. Na sexta-feira, o Papa foi, logo cedo, para a Quinta da Boa Vista. E, a noite, os jovens vivenciaram os momentos marcantes de uma Via Sacra.

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