OPINIÃO

Colcha de retalhos II (a vingança)

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O título acima é porque tenho a impressão de que já escrevi outra crônica com o mesmo título. Pensei nela porque os pensamentos mágicos de nossas loucas mentes, assim como os átomos que nos constituem tal parede de tijolos feitos de carbono, são fugidios e como é que a gente voa quando começa a pensar. Pensava assim em fragmentos que significam felicidade e lembrei das balançantes pernas de minhas colegas de segundo grau (Miriam, Rejane, Claudete e Eliane) que, sentadas ao muro do Cenav, cantavam Manhãs de Setembro (Vanusa). Não me pareceu importante aquele momento, ledo engano, gostaria de reproduzi-lo e, talvez, cantar junto. A gente está sempre buscando a mágica, aquela que torcemos surgir nos filmes água-com-açúcar, a mágica que fará a transformação do que era para acontecer e que os atrapalhos corriqueiros estavam tentando desviar. Sim, a vida copia a arte e muitas situações que são lógicas de serem resolvidas não fluem. A gente tem que saber suplantar os desafios do cotidiano porque evidentemente problemas muito mais sérios virão e essas querelas serão até fonte de saudades.

Marco Antônio Caliolo, o Marcão, estava, certa feita, com problemas gigantescos para resolver. Ao voltar do banheiro do bar, percebi que ele estava rindo. É que ele estava assistindo ao que passava na TV – Tom e Jerry – fiquei feliz, também porque Marcão era um menino, seu coração era o de um menino, eu era amigo de um menino, o tempo não havia derrubado o seu coração e nem sua alma.

Meu colega Roger Costa disse certa feita lá na casado Clebes Fagundes: nós somos uns f.d.p. Concordei imediatamente. Qual é a explicação para que a gente que se gosta, que tem muitas afinidades deixa de conviver ? Nesse momento de nossas existências temos realizado encontros em despedidas lá no Memorial. Concordo, caro Roger, nós somos uns f.d.p.

Nem tudo, no entanto, pode ser lamento. As coisas passadas nem podem ser reparadas. Por isso, acho que curto intensamente o momento atual quando meus filhos começam a definir seus caminhos e participamos ativamente nas escolhas. Georgia fez dezenove anos, não é mais um bebê, dizem. Ramon tem vinte e dois. Meu coração habita o vale da tranquilidade, não pelo fato de que não há problemas a serem resolvidos. Pelo contrário, minha casa é tal qual qualquer outra. Sempre haverá algo a ser resolvido, às vezes com lágrimas. O vale da tranquilidade é pelo fato de nós, os pais, fazem o que de melhor podem e sabem nessa travessia. Creio ser essa uma das funções dos pais: ajudar os filhos a sonharem sonhos possíveis e fazê-los despertar para o que virá.

Nesta imensa colcha de retalhos, fragmentos da vida de todos nós, uns bons , outros ruins, lembranças vêm e vão. É bom pensar, é bom poder agradecer aos meus e a todos os filhos que compreendem e aceitam as lutas manifestas ou escondidas que travam seus pais diuturnamente para poder deixar a eles caminhos melhores que tivemos que trilhar para chegar aonde foi possível chegar.

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