O cara atravessou a rua Marechal Floriano e estava vestindo, lembro bem, uma japona ou sobretudo trespassado de cor azul-marinho e com botões dourados com o relevo de uma âncora. Estava frio, é claro e meu pai sentenciou: esse é um homem de valor...porque trabalha e estuda. Com essa frase o homem mais importante da minha vida definiu todo o meu destino: eu haveria de ser de valor e eu estudaria e trabalharia simultaneamente. Perceba, caro leitor, a importância de os jovens ouvirem dos mais velhos coisas construtivas. Outras vezes meus pais comentavam que determinada pessoa não prestava, ou que aquele sorridente e loquaz estava bêbado. Pensava, então: como sou burro e não percebo tais coisas que os adultos percebem. Eu estava consciente que os adultos eram sábios e confiáveis, pelo menos os que eu conhecia. Depois, a gente vai crescendo e o mundo muda os matizes e a confiança dá lugar à desconfiança.
Então, primeiro deixamos de confiar cegamente em todos. Depois, perdemos a confiança em determinados grupos de pessoas como os juízes de futebol, por exemplo. Mas, aquilo é do esporte. Mas, vem a desconfiança ou o desencanto com os homens públicos, os políticos. Até Luís Inácio disse haver mais de 300 picaretas no Congresso. Aí, perdemos fé nos partidos políticos, pela falta de lógica, pela falta de ideologia, pelo fisiologismo ou tudo isso e mais a falta de compromisso. Agora, perigosamente, vivemos o descrédito nos poderes Executivo e Legislativo e, por mágica, centramos as esperanças no Judiciário. Este, o Judiciário, será a fonte da remissão de todos os pecados. Identificamos no togado Joaquim Barbosa, a possibilidade do retorno da idoneidade.
É uma pena que seja assim, não pelo simpático e austero ministro Joaquim Barbosa, mas pelo fato de que já jogamos as cartas em Tancredo – o que não foi, mas poderia ter sido; em Collor - que poderia ter sido, mas não foi; em Lula – que não foi a metade que poderia ser, mas por ainda permanecer, já que segundo Dona Dilma, nunca saiu, pode ser que ainda venha a ser.
Desconfiança não é algo bom, mas é prudente. Confiar pode significar possibilidade de falha, mas não a fé porque ela é cega e não costuma faiá. Tenho confiança de que mudanças virão para dar ao Brasil o destino que lhe cabe, mas não tenho a fé que isso vá acontecer.