OPINIÃO

Os implacáveis

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O momento é de certa apreensão para quem estava acostumado à leitura diária do jornal impresso. Seu formato inteiro circunscreve uma estética assimilada pelos seus leitores, que são adeptos, aficionados, habituais amigos das letras dispostas no jornal. O leitor incorpora a estrutura impressa, que tem cor, cheiro, idéia, ódio, amor, emoção – personalidade. A nova realidade prenunciada como avassaladora, poderá varrer este modo de sentir a informação cotidiana. O surgimento a cores nas telas do computador, que parece tomar o lugar das páginas do jornal, preconiza outro formato de memória do ser humano. O cérebro humano, repleto de informações de memória efêmera, deve ser mais completo, sob pena de sermos relegados a uma oralidade duvidosa. Mesmo que a gente imprima alguma coisa do computador, nunca será como os anais de um jornal, ou aquele recorte especial. Neste passo se torna importante a adequação possível, sem mero saudosismo, mas sem relegar percepções que dizem respeito aos nossos sentidos, onde se inclui emoção visual, tato, olfato e o caráter espirituoso das entrelinhas. Haverá, para o futuro, “arquivos implacáveis” com a intensidade que temos hoje?

Os grandes
Aos poucos as adaptações orçamentárias dos grandes jornais vão mostrando encolhimento. No Brasil já não circula a versão impressa espanhola de El Pais. Nas telas, no entanto, a versão em português. A venda do The Washington Post ao milionário da informática Jeff Bezos afligiu o mercado de trabalho, mas significa a transformação de uma marca na modernidade global. Ninguém vai ficar isento de uma revisão financeira que inclui a modalidade virtual das páginas. Logo teremos disponíveis nas guias de exibição, síntese de páginas semelhantes à circulação gráfica. Isso quer dizer que sempre haverá resistência em prol da matéria palpável, com as devidas adaptações. Por enquanto ainda é muito difícil conceber uma leitura saborosa, sem o papel jornal.

Passo Fundo
A cidade parecia terminar ali, na Presidente Vargas, ainda Avenida Mauá, na esquina para a Igreja Santa Teresinha. O certo é que poucas residências situavam-se rumo ao então Bairro Exposição, hoje São Cristóvão. A pavimentação terminava na frente da farmácia Mauá. Assim vi minha cidade, no ano de 1954, quando chegamos com a mudança, de Santa Cecília do Sul, quer pertencia a Passo Fundo, mas nem distrito era. E fomos morar na Senador Pinheiro, esquina, defronte a Brigada Velha. Quem viveu os últimos anos por aqui, e na infância burlava a guarda do trem para se pendurar num vagão da maria-fumaça na antiga gare, sabe que não foi apenas o mundo que mudou. O nosso mundo municipal mudou. E crescemos muito. Esta terra foi transformada pelo trabalho e desassombro de várias gerações. Por isso é generosamente acolhedora, na sua majestade de Capital do Planalto. E são 156 anos de luta, fraternidade, desafios e êxitos.

Retoques:
* O deputado Joel Câmara, que preside a comissão de Direito Eleitoral da OAB nacional publicou artigo bem sucinto para explicar a execução de condenação de parlamentares. Resumindo, se a condenação, como no caso do “mensalão”, a sentença determinar o cumprimento conforme o art. 92 do Código Penal, quem detiver mandato de deputado poderá ser punido. Sem esta referência, a competência de cassação é do Parlamento, ou após o final do mandato – o Judiciário.

* Um dos aspectos que revela grande inversão de valores é este novo status que insiste em apresentar aos jovens apenas soluções milagrosas, ou pelo menos irreais. Há algum tempo as coisas eram muito mais difíceis, como, emprego, e acesso aos bens, principalmente a informação. Agora os supérfluos estão fáceis demais. Os bens essenciais estão acessíveis, mas a ilusão de que tudo deve ser fácil complica o conjunto. O equívoco sobre valores culturais e sustentáveis, sob a visão consumista, está minando as estruturas. Muitos males morais e materiais acontecem por este erro de rumo e o falso conceito de que tudo deve ser pelo caminho mais fácil. A adolescência não está isenta das vicissitudes.

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