OPINIÃO

Novos ares

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O Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil ficou em 3,8 pontos em julho deste ano, o terceiro mais baixo da América Latina entre 11 países pesquisados. A pontuação do Brasil só foi maior do que a obtida pela Venezuela (1 ponto, a pontuação mínima) e a Argentina (3,6). O índice é calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A queda do indicador, calculado com base na opinião de especialistas sobre a economia local, foi 32%. Em abril, o ICE brasileiro alcançou 5,6 pontos. O resultado de julho também ficou pouco bem abaixo da média de 6,1 pontos observada nos últimos dez anos.

A média do ICE na América Latina em julho foi 4,4 pontos. Em abril, havia sido 5,2. Os melhores resultados foram obtidos por Paraguai (7,3), Colômbia (6,1), Peru (5,6), Bolívia (5,4), Uruguai (5,3), México (5,3) e Equador (5). O Chile ficou na média (4,4). Apenas dois países tiveram melhora no indicador entre abril e julho: Colômbia e Uruguai. A Bolívia se manteve estável e os demais tiveram queda. No Brasil, os especialistas estão mais pessimistas tanto em relação ao momento atual quanto ao futuro. O Subíndice de Expectativas, que avalia a situação para os próximos meses, caiu de 6,4 pontos em abril para 4,2 em julho. Já o Subíndice da Situação Atual caiu de 4,7 para 3,3 pontos no período.

Como os dois subíndices estão abaixo de 5 pontos, o Brasil está em fase de recessão, segundo o estudo. Em abril, o país estava na fase de recuperação (quando o Subíndice de Expectativas está acima de 5 e o Subíndice da Situação Atual está abaixo desse valor). As outras duas categorias da pesquisa são expansão (quando os dois subíndices estão acima de 5) e piora (quando a Situação Atual está acima de 5 e a Expectativa abaixo desse valor).

Como a pesquisa da FGV foi realizada no mês de julho, ainda não é possível captar a mudança do clima aqui no Brasil. Com a reabertura do período legislativo por parte do Congresso Nacional, e com o anúncio da liberação de R$ 6 bilhões por parte do Executivo Federal para atender as emendas parlamentares alguns sinais de mudanças já são perceptíveis, na nova pesquisa de intenção de voto a presidente Dilma cresceu 5 pontos percentuais.

Dois são os fatos que devem repercutir positivamente a partir desse mês. O primeiro refere-se ao campo político, observa-se a redução dos estresses ou conflitos institucionais, que contribuem significativamente para diminuir o início de uma grande depressão que estava contagiando a sociedade e a economia. Ao tomar a iniciativa de dialogar com o poder legislativo, a Presidente Dilma, parece ter retomado o bom senso político. No segundo front de conflitos, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que pode eventualmente condenar membros do Legislativo, mas que a cassação do mandato obtido na urna deve ser feita pelo Congresso. Tais movimentos garantem o mútuo respeito e a independência harmônica dos Poderes da República e, portanto, a consolidação institucional.

Os novos ares institucionais devem patrocinar uma ampla discussão na sociedade com o objetivo de combater a onde pessimista que assola o país. A onda pessimista trouxe a baila a nossa posição não muito confortável no plano econômico, o que a pesquisa da FGV escancara como de fato é a vida real. O crescimento medíocre por falta de investimento público e dificuldade de cooptar o do setor privado; taxa de inflação no teto superior da "meta" e um déficit em conta corrente de mais de 75 bilhões de dólares, são os reais desafios que devem mover a sociedade e o governo.

No campo econômico externo algumas notícias como a aceleração das exportações chinesas e coreanas, e o aumento dos indicadores de compras industriais nos EUA e Europa, parecem dar alento a uma recuperação ainda que lenta da produção. No interno, tem havido uma mudança no comportamento do governo em relação à cooptação do setor privado para competir nas obras de infraestrutura cuja eficácia será testada nos próximos leilões de concessões de rodovias, ferrovias, portos e energia.

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