OPINIÃO

Câmbio flutuante

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Após a implantação do Plano Real, em julho de 1994, o Brasil passou por um momento de indecisão quanto ao regime cambial a ser adotado e em 1995 optou-se pela adoção de bandas cambiais. Após ataques especulativos que tinham como fundamentos as sucessivas crises cambiais (México em 1994, Sudeste Asiático em 1997 e Rússia em 1998). No dia 18 de janeiro 1999, o Banco Central do Brasil anunciou por meio de comunicado ao mercado que não mais sustentaria a taxa de câmbio dentro de limites pré-estabelecidos, rompendo assim com décadas de controle da taxa de câmbio.

Desde sua introdução em 1999, o regime de câmbio flutuante enfrentou vários problemas internos e graves crises externas, a começar pelo colapso do preço das ações de empresas de alta tecnologia em 2000, a crise argentina em 2001, os ataques terroristas de 11 de setembro, a crise de confiança de 2002. Por outro lado, o ambiente mundial foi em geral favorável entre 2003 e 2007, e, mais recentemente, a crise financeira global, subprime americano 2008 e a crise da Zona do Euro 2010. Portanto, parece correto afirmar que próximo a completar 20 anos de implantação e 15 anos de flutuação cambial o real experimentou um ambiente externo variado, nem persistentemente negativo nem tampouco consistentemente favorável.

O câmbio flutuante é interessante para os responsáveis pela conduta da política econômica, pois se houver uma perda de competitividade da economia nacional atrelada, por exemplo, a uma forte inflação interna ou a uma queda na produtividade, ele torna desnecessário qualquer ajuste interno. Os ajustes são feitos externamente. Se a moeda nacional for desvalorizada em razão da perda de competitividade, isso vai estimular as exportações e frear as importações. Fica como se a conta do ajuste fosse paga pelas economias estrangeiras.

Algumas desvantagens são associadas a esse sistema. A principal delas refere-se à instabilidade devido a maior volatilidade da taxa de câmbio. As maiores flutuações das taxas podem desestabilizar os fluxos comerciais, restringindo o comércio internacional (ressurgimento de protecionismo), e, ao ampliar a incerteza, podem levar a reduções nos investimentos. Outro fator que esta pesando na política cambial brasileira, é a retomada da economia americana. Uma dessas decisões que, hoje, alguns dizem ter “salvado o mundo” foi criar um programa de nome indigesto – afrouxamento quantitativo (ou quantitative easing). Ele consiste na compra mensal de 85 bilhões de dólares em títulos do Tesouro e de bancos americanos como forma de injetar dólares na economia. O plano tinha como objetivo dar liquidez às instituições financeiras para que elas pudessem emprestar mais aos clientes e estimular o consumo. No início, muitos duvidavam de seus efeitos. Mas, com a economia americana voltando a crescer num patamar de 2% em 2013, os estímulos se provaram eficazes.

No Brasil, o poder do Banco Central é constantemente ofuscado pela interferência do governo. Tal situação fez com que o BC perdesse alguma credibilidade, principalmente depois que a inflação voltou a subir. Destaca-se que o atual Ministro Presidente do Banco Central do Brasil é um técnico de carreira da instituição e mesmo assim, não conseguiu obter o que Henrique Meireles e Armínio Fraga seus antecessores desfrutavam, a autonomia. Ainda nas últimas semanas, a possibilidade mencionada na reunião do FED de reduzir ou até mesmo acabar com o afrouxamento quantitativo, fez com que o mundo entrasse em ebulição. No Brasil, os efeitos de um possível corte desses estímulos pesaram sobre o Brasil: o dólar saiu de 2,25 e foi para 2,45 em questão de dias. Voltou a 2,35 reais apenas depois que o Banco Central anunciou uma ofensiva de 100 bilhões de dólares para conter a alta. Tal volatilidade implicará na vida das pessoas, pois viajar para o exterior, comprar importados tornar-se-á pouco atrativo, acrescido da impossibilidade do planejamento financeiro das famílias e das empresas no médio e longo e prazo.

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