OPINIÃO

A Comunidade Anarquista de Erebango (2ª parte)

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Experiência única ocorreu com um grupo de ucranianos que chegaram à sede da Colônia em junho de 1911. A imprensa de Porto Alegre registrou no mês de junho daquele ano: “Para a Colônia Erechim no município de Passo Fundo, seguiram ontem 28 imigrantes russos”. Abrigados no barracão da Comissão de Terras seguiram após algumas semanas para a localidade de Campo Erechim, em Erebango.

Além da gleba de terras cada família recebeu 500 mil réis em vale para ser trocado por mercadorias no armazém da sede da Colônia, foice, enxada, machado e uma serra. É possível que a escolha do local para a instalação dos imigrantes ucranianos, chamados aleatoriamente de “russos” se deu pela proximidade da ICA. A companhia, ou Jewish Colonization Association, acolhia na Fazenda Quatro Irmãos imigrantes judeus da Europa Oriental, na grande maioria do Império Russo.

As dificuldades enfrentadas nos primeiros tempos estavam relacionadas à falta de estradas, assistência médica, e até mesmo de alimentos. Em depoimento colhido por Edgar Rodrigues, pesquisador da história social, escritor e historiador autodidata português naturalizado brasileiro, Elia Ilchenco relatou as agruras dos colonos ucranianos da localidade de Campo Erechim.

Na obra “Libertários no Brasil: Memória, Lutas, Cultura”, Rodrigues reserva um parágrafo para registrar o que lhe foi relatado por Ilchenco. “No capítulo intitulado “Comunidade Livre de Erebango”, revela a experiência de apoio mútuo e solidariedade humana entre as famílias”. “Os mais hábeis cumpriam as mais diversas tarefas (na agricultura, no ensino, no aconselhamento do grupo, na assistência aos doentes, no sepultamento dos mortos), sem que isso significasse ascensão ou domínio sobre os demais”.
A trajetória da comunidade foi revelada por Elias Ilchenco a Edgar Rodrigues, que participou da luta contra a ditadura Salazar e se exilou no Brasil em 1951 se instalando na cidade do Rio de Janeiro. Primeiramente através de extensa correspondência, e pessoalmente quando da visita feita em Erebango no ano de 1977. Parte do acervo, que ainda não havia sido enviado por Correio, foi levada na ocasião.

Além dos livros trazidos e os recebidos periodicamente, Elias Iltchenco preservou um vasto acervo de jornais e revistas. Ainda na década de 1910 passou a chegar a Erebango exemplares do jornal libertário Golos Truda, da Federação de Trabalhadores Russos, com sede na Argentina. É crível que o senso libertário tenha sido despertado pela coletividade graças à leitura. Além do russo o grupo aprimorou o espanhol, português e esperanto.

 

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