Sobre os filmes em cartaz... Pagar entrada no cinema para ver Leandro Hassum numa comédia (que novidade hein, distribuição de filmes nacionais!!) padrão programa global de sábados à noite? Não, obrigado, “Vestido pra casar” não me interessa. Nesse final de semana estreia no resto do país “Rio, eu te amo”. Não tanto pela declaração de amor à cidade maravilhosa, mas o projeto atrai a atenção de muita gente pelos nomes envolvidos. Faz parte da franquia “Cities of Love” e é formado por diversos curtas dirigido por gente como Andrucha Waddington, José Padilha, Fernando Meirelles, Guillermo Arriaga (que esteve em Passo Fundo na Jornada Nacional de Literatura de 2009) e Paolo Sorrentino.
Comediazinhas tolas a gente recebe aqui no circuito de Passo Fundo. Será que esse, por exemplo, vem para cá?
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Na coluna da semana passada, comentei, a respeito de Hércules, da dificuldade nos tempos modernos de o cinema simplesmente trazer para as novas gerações histórias que são passadas de geração a geração há décadas, séculos, milênios. Sempre é preciso recriar, modificar, transformar, deturpar. No tempo em que as HQs de década em década “reformulam” seus universos e desconstroem (ou reconstroem) suas histórias, é um sintoma habitual. Leio, nessa semana, que Morgan Freeman é o primeiro ator confirmado da refilmagem (que novidade) de Ben-Hur, épico literário ambientado nos tempos de Jesus Cristo, que narra a amizade que se transforma em ódio entre um romano e um judeu. O cinema já viu essa história no cinema mudo, em um filme cuja montagem na famosa cena de bigas, se vista lado a lado com a clássica versão de 1959, pouco deve em termos de mobilidade e ação. A versão de 59, aliás, é a mais famosa, um dos maiores vencedores da história do Oscar. Há um par de anos, uma mini-série de poucos recursos recontou essa história, mas poucos viram. Pouco vale a pena, também.
Pois na refilmagem, decidiu-se que o filme se chamará Ben-Hur, mas não tratará da clássica história em si. Contará a história anterior, de como os personagens se conheceram. Pode haver mérito em constantemente ampliar essas histórias, mas cada vez mais eu vejo o cinema se distanciando de todas as narrativas que lhe deram origem. Dias atrás revi “El Cid”, de Anthony Mann, repleto de planos de uma imponência visual que o cinema parece não conseguir recriar mais sem a ajuda de computadores. Fico em cima do muro quanto à criatividade de rever histórias sob um novo ponto de vista e mostra-las, como sempre foram, às novas gerações, mas definitivamente no que diz respeito ao talento, ainda prefiro o olhar puro da câmera dos realizadores antigos, que com menos recursos fizeram coisas memoráveis e que marcam na retina muito mais do que cidades monumentais recriadas em computador. Como, aliás, deverá ser a Roma do novo Ben-Hur... que nem deverá ser, realmente, Ben-Hur.