A vida, como sabemos, é feita de ciclos curtos e longos. Os pequenos ciclos são tidos por nós, como os da felicidade. Diz Odair José que a felicidade não existe, que o que existe na vida são momentos felizes, ou fragmentos. Os ciclos longos são os dos destinos, dos sofrimentos, dos lutos. Esses ciclos parecem ser eternos e patologicamente prolongados além do necessário. O primeiro ciclo de nossas existências, a primavera da vida, vai até onde começa a descarga hormonal. Nesse ciclo, normalmente confortável, vivemos sob a tutela dos pais. Quando as espinhas surgem e a gente começa a demorar demais no banheiro surge o ciclo do verão e das volúpias, energia pura, explosão intensa. No outono da vida há as contemplações e perguntas sobre a razão da existência, vida x morte, corpo x mente, destino x livre arbítrio. Essa é a fase do rescaldo, da prestação de contas e, não raramente, vem a sensação de menos-valia. O inverno, o último ciclo, é a fase em que novamente necessitamos de amparo e calor, onde não somos mais auto-suficientes. Essas são as estações de nossas vidas em que cada uma tem seus frutos e é preciso saber aproveitá-los. Tem gente querendo no outono viver dos frutos da primavera-verão. Calma pessoal, muitas vezes parece ridículo.
Pode parecer bobagem, ou coisa de desocupado ficar escrevendo sobre os ciclos da vida. Mas, pense, se a gente não compreender que a vida é feita dessas oscilações nosso tempo passará batido. É preciso desfrutar dos bons momentos, como a simples vitória do time do coração, sem que se perca a certeza de que amanhã virá a derrota, depois vitória-derrota-vitória.
Ah, se pudéssemos retomar a vida com aqueles que já partiram, que bom seria. Ah, se pudéssemos ser sempre jovens. Ah, se a cadência das artérias, o brilho dos olhos e o preto dos cabelos fossem permanentes.
Compreender que a tristeza tem fim e felicidade, também não significa que devamos ficar inertes à espera do tempo, o senhor da razão. Significa que a temperança deve acompanhar a evolução da idade e, então, velhos, conhecedores dos caminhos e descaminhos da vida podemos começar a pensar em transmitir nossas experiências, se é que alguém vá estar interessado em nos ouvir.
Ps – Recebi, com alegria, a resenha de O Monge, novo livro de Paulo Renato Cerati. Trata-se de uma epopéia do homem em busca de sua importância no contexto familiar e social. Propõe, como todo bom livro, a fazer pensar, a sair do lugar comum. A epopeia de fazer as coisas com amor e intensidade e de repente se perceber como descartável. Vai sair em março de 2014. Sugiro a leitura lenta, sugiro a reflexão pós-leitura.