Um empresário passo-fundense comprou um carro há três anos. A garantia de fábrica era de três anos. Um dia depois de vencer a garantia, voltando de madrugada de uma viagem a trabalho, o motor pifou e ele ficou empenhado na estrada. Precisou chamar o seguro e o carro voltou para casa de guincho. Foi uma extrema precisão ou coincidência? Ele poderia simplesmente ter bancado o prejuízo, afinal a garantia tinha sessado, mas resolveu cobrar da montadora o conserto do seu carro. “Tomei um susto com a coincidência. Como é que o motor poderia pifar só com 22 mil km rodados?”, questionou o empresário ao funcionário da concessionária. Após negociar muito, o motor foi substituído, mas consumidor saiu prejudicado porque ficou 12 dias sem carro, ficou sem a garantia do novo motor, precisou fazer uma nova vistoria para o seguro e teve que refazer os documentos do carro.
Assim, como os carros estão se tornando descartáveis, mais comum ainda são histórias de consumidores que tiveram uma televisão, geladeira, micro-ondas, fogão, máquina de lavar e celular com problemas com pouco tempo de uso. Se há algum tempo atrás a primeira opção era levar o equipamento ao conserto, hoje o consumidor já corre atrás de comprar novo. Com isso, a procura pelas lojas de assistência técnica diminuiu vertiginosamente e a venda de eletrodomésticos aumentou espantosamente
Todo este fenômeno está sendo chamado de obsolescência programada. Este comportamento pode parecer novo, mas já é observado há quase cem anos. Segundo o professor e coordenador do Balcão do Consumidor e do Procon Municipal, Rogério Silva, o drama do empresário se configura como um caso típico de obsolescência programada, quando se constata a vida curta de um produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido, induzindo que o consumidor o substitua por bem novo e mais moderno. “Os produtos não duram mais como antigamente, pois não foram feitas para durarem. Usamos por um tempo e jogamos fora e assim a economia gira”, explicou.
Silva relata que orientou uma recente pesquisa realizada por alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF) que estudou durante sete meses reclamações registradas no Balcão do Consumidor envolvendo duas lojas locais de eletroeletrônicos e eletrodomésticos da cidade. A conclusão dos acadêmicos Elias Benetti e Shanassis Anhanha, foi que em 73% do total de registros foi confirmado algum indício obsolescência programada. “O mais comum foi de casos onde o produto foi para a assistência técnica até três vezes e o vício não foi sanado, na maioria das vezes por falta de peças de reposição”, detalhou Benetti.
Obsolescência PROGRAMADA
O termo obsolescência programada apareceu nos anos 1920, quando um grupo de indústrias se uniu (1º cartel do mundo) com o objetivo de que as lâmpadas incandescentes, que funcionavam naquela época há mais de 100 anos ininterruptamente, se tornassem menos duráveis. A intenção era criar uma limitação técnica intencional, para que sua vida útil fosse de apenas 1.000 horas e, assim, criar demandas de consumo regulares. O truque funcionou e as indústrias descobriram que tinham controle absoluto sobre o comportamento dos consumidores.
O fato foi tema do documentário “Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada” de Cosima Dannoritzer 2011 (título original The Light Bulb Conspiracy). Ele relata exemplos da prática da obsolescência programada (ou planejada) onde fabricantes diminuem a vida útil dos produtos para aumentar as vendas.
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