A Justiça de Santa Maria ouviu ontem à tarde, no fórum de Passo Fundo, o depoimento da estudante Ana Paula Grave, 22 anos, sobrevivente da tragédia da boate Kiss, em janeiro deste ano, onde morreram 242 pessoas e mais de 600 ficaram feridas. A Polícia Civil indiciou 16 pessoas pela tragédia. Elas respondem pelos crimes de homicídio doloso e tentativa de homicídio. Responsável pelo processo, o juiz Ulisses Fonseca Louzada, titular da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, pretende ouvir nesta fase do processo pelo menos mais 24 vítimas, algumas delas, inclusive, fora do Rio Grande do Sul. A dificuldade, revela, está na localização dos endereços destas pessoas. Na terça-feira, ele participou de audiências nas cidades de Horizontina e Frederico Westphalen. “Todos os depoimentos são importantes, sempre trazem alguma contribuição. Cada relato apresenta algo de diferente para que possamos ter uma visão global dos fatos”, afirma. Sem um prazo definido para a conclusão dos trabalhos e julgamento, Louzada diz que o andamento do processo segue sem atropelos e de maneira serena. “Não vamos tolher nenhuma das partes para chegarmos o mais próximo da verdade possível” comentou. Segundo ele, nesta fase cada parte teve o direito de arrolar 48 vítimas. Na etapa seguinte serão ouvidas as testemunhas de acusação e defesa.
O depoimento de ontem em Passo Fundo, durou cerca de uma hora, metade do tempo médio de outras audiências. A novidade, de acordo com o magistrado, foi o fato de a vítima ter feito algumas imagens e guardado a comanda distribuída na noite da tragédia. “Este um dado importante. Pela numeração da comanda é possível identificar o número de pessoas que estavam na boate. Já requisitamos algumas delas com outras vítimas” afirma o magistrado, que não descarta a possibilidade de retornar a Passo Fundo para ouvir mais vítimas.
Natural da cidade de Ibirubá e acadêmica do curso de Direito, em Passo Fundo, Ana Paula disse em entrevista, logo após a audiência, ter ido a Santa Maria visitar uma amiga de sua cidade natal, também universitária. “Fui com ela e mais uma amiga pela primeira vez na boate. Estávamos na área vip quando alguém gritou que estava pegando fogo”. Após muita dificuldade para sair da casa noturna, contou ter ficado prensada contra um táxi estacionado na porta da boate. “Tinha muita gente. Percebi que havia deixado cair a bolsa e voltei até a calçada para buscá-la. Minhas amigas também conseguiram sair” relatou a estudante, que já havia prestado depoimento na delegacia.