Finados: ritual para lembrar de quem já partiu

A forma como cada religião encara a concepção da vida tem estreita ligação com a maneira que encaram a morte e os rituais de velório e enterro

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A maioria das pessoas, pela tradição católica brasileira, pensa o ritual de passamento (morte) de algum parente ou amigo com os elementos do velório por cerca de 24 horas, celebração de missa de encomendação do corpo, e o enterro, finalizando as homenagens no cemitério. Mas nem todas as religiões e crenças agem dessa forma. Algumas optam pela cremação imediata. Outras, por enterro em caixões simples. O que é igual em todas é a realização de algum ritual.

Com a chegada do Dia de Finados, feriado nacional, os adeptos das mais diversas religiões encaram o dia de acordo com o que prega a religião na qual acreditam. Para os católicos, por exemplo, o dia normalmente é dedicado à visitação dos túmulos, quando também aproveitam para levar flores e orar. Já os judeus, não celebram o Dia de Finados. Isso ocorre porque a data começou especificamente dentro da religião católica, conforme explica Gizele Zanotto, professora do programa de pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), pesquisadora e pós-doutoranda na Universidad de Buenos Aires (UBA). “A celebração de um dia especial para os mortos deriva do calendário litúrgico que determinou o dia 2 de novembro como Dia de Finados em 1311, oficializando uma prática muito mais antiga que mobilizava os fiéis a cultuarem sobretudo os mártires e familiares falecidos”.

A tradição foi trazida para o Brasil junto com a colonização portuguesa, que mantinha as festas católicas pelo calendário oficial. Porém, mesmo após a instauração da República em 1889, a força do catolicismo permaneceu, mantendo a celebração. Nos tempos atuais, os governos mantiveram o 2 de novembro como feriado civil, através da Lei No. 10.607, de 19 de dezembro de 2002. “Embora seu caráter extrapole o catolicismo, pois se trata de um dia dedicado à memória dos mortos, em geral são os ritos desta religião que preponderam no feriado”, completa a pesquisadora.

Significado da morte tem relação em como se vê a vida
Para entender como se cultua ou que tipo de ritual cada religião dedica à morte é preciso entender como cada uma encara também a vida. “Nas várias culturas religiosas a consideração da morte e da pós-morte são variadas, mas significativas em relação à própria concepção de vida que se têm. Crer na vida eterna, espiritual ou no fim absoluto incide em como encaramos o nosso cotidiano”, avalia Gizele.

Isso acontece porque, “as religiões, como discursos que nos inserem neste mundo e nos situam em relação a eles, dedicam-se a dar um sentido à vida e também à morte. Se a morte é considerada um fim absoluto, o valor dado à vida ganha destaque e mesmo um sentido de urgência pela felicidade, pela experimentação, pela realização. Se for considerada uma passagem, a vida é articulada a um estado, espaço, dimensão, etc. exterior e vinculada a uma realização moral e ética pela elevação espiritual”.

Os rituais de morte e sepultamento se articulam a esses discursos sobre a vida e a morte de cada tradição religiosa. Em Passo Fundo, dada a diversidade religiosa que se têm no município, pode-se observar várias formas de condução dos ritos fúnebres e vários sentidos legados a morte. “O interessante é que em todas as religiões há variações nas formas de realizar os rituais fúnebres em função de incorporação e/ou eliminação de práticas em cada grupo sociocultural específico”, completa.

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