A administração Dilma Rousseff deixará uma marca nada agradável para um governante: entre 2011 e 2014, o rombo nas contas do setor público deverá totalizar R$ 534,6 bilhões, segundo as estimativas mais conservadoras do mercado e da equipe econômica. O buraco será maior do que os R$ 500 bilhões em investimentos prometidos pela presidente da República por meio das concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, um claro sinal de descontrole das finanças federais.
Em relação ao primeiro mandato de Lula, quando houve déficit nominal (que inclui os juros da dívida pública) de R$ 308,1 bilhões, o rombo do governo Dilma será 73,5% maior. Na comparação com os últimos quatro anos do petista, nos quais faltaram R$ 336,3 bilhões para o fechamento das contas, o salto foi 59%.
O humor no mercado de juros futuros da BM&F azedou de vez. Apesar do dia morno no exterior, as taxas experimentaram uma alta expressiva, em movimento alinhado com o dólar, que ultrapassou o teto de R$ 2,30. Com o corte da taxa básica de juros na zona do euro (de 0,50% para 0,25%) e os títulos do Tesouro americano (Treasuries) comportados, o cenário deveria ser de acomodação dos DIs.
No entanto, o mercado de juros entrou uma espiral de zeragem de posições prefixadas, no que parece ser uma readequação geral dos prêmios de risco. O motivo? Todos apontam para as questões domésticas: inflação elevada, crescimento modesto, buraco nas contas externas e, sobretudo, perda de confiança na gestão das contas públicas.
Como confiar? O governo Lula, o do primeiro mandato, foi tipo chinês. A propaganda, inclusive a eleitoral, era para mudar tudo e desmontar o regime neoliberal. Na prática, o governo aumentou o superávit primário a níveis inéditos, nomeou um banqueiro para o Banco Central que, autônomo, foi logo aumentando os juros para colocar a inflação na meta, e aplicou reformas que favoreceram o ambiente de negócios.
Já o governo Dilma parece adotar a mesma técnica, mas invertida. Jura fidelidade ao superávit primário, ao regime de metas, promete liberdade e oportunidades ao capital privado — e faz tudo ao contrário.A questão é: faz isso de propósito ou tudo é uma grande confusão, resultado da falta de objetivos e capacidade?
Não é brincadeira. A dúvida persiste inclusive entre os aliados do governo, tanto os da esquerda quanto os da direita. Todos estes — e mais os críticos adversários — concordam com os números: as contas públicas estão se deteriorando, a despesa cresce mais que a arrecadação, o superávit primário é cada vez menor e a tendência da dívida pública é de alta. Sinais claros disso: sobe a taxa de juros, o real se desvaloriza mais que outras moedas.
Os aliados mais à esquerda, digamos, sustentam que isso não tem nada demais e que o governo deveria sair do armário e assumir que vai aumentar mesmo o gasto público e derrubar os juros de qualquer jeito.
Os amigos mais à direita, digamos, contam que há um desvio momentâneo, compreensível, que neste momento o superávit primário pode mesmo ser menorzinho, mas daqui para frente — olhem lá, hein?! — é preciso dar uma segurada nos gastos e arrumar a contabilidade.
Os críticos e adversários sustentam que as bases macroeconômicas estão sendo destruídas, mas não se entendem se é por vontade ou por incompetência.
Aí vêm a Presidenta e o ministro Mantega e garantem: está tudo sob controle. Qual controle? Certamente não é do tipo chinês.As contas públicas estão se deteriorando, a despesa cresce mais que a arrecadação, o superávit primário é cada vez menor. O ano de 2014 define-se em 2013.