OPINIÃO

Coluna Celestino Meneghini

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Séculos de horror
Entre todas as maldades, desavenças, atritos, destruições patrimoniais, ferimentos físicos ou doenças, a mais cruel é a humilhação, a vilania do menosprezo que atinge a alma e o psíquico dolorosamente quando alguém é espezinhado. Nos séculos de escravidão, a maldade humana afrontou o princípio fundamental da vida arrebatando dos escravos, os dons corporais de existência, o direito de ir e vir, de se manifestar, de viver e até de morrer dignamente. Falando-se dos casos mais graves, nem tão esporádicos, um cão, ou um boi, eram de maior valia. Tudo era sonegado aos escravos negros e índios. As mulheres eram estupradas, ainda que a própria lei vigente proibisse. O direito de viver esvaia-se diante da suprema maldade dos senhores de escravos, de soberba doentia, onde não faltavam cenas de tortura em meio a gargalhadas de soberbos psicopatas da aristocracia.

Sociedade podre
Toda a história brasileira é manchada pela dor e pela morte. Por isso é inapagável a efígie monstruosa da injustiça, sob os auspícios da instituição estatal e todo o séquito de ordens religiosas, ou instituições que ainda se jactam salvadoras ou defensoras da comunidade. Quando é massacrado o corpo da mulher e do homem e sua alma é considerada inexistente, não há esforço ontológico que justifique como pensamento de época. A inércia, ou omissão de pessoas célebres não torna a conduta histórica, mais humana ou perdoável. Hoje somos um povo, mas um povo manchado pela ignomínia da covardia contra nossos irmãos negros. Por isso mesmo sabemos que a corrupção e a maldade, o senso comum, a estultice coletiva, o sadismo que se deleita coma desgraça alheia, tudo isso fermentou sob a lei da escravidão. Infelizmente, hoje somos todos nós escravos de um passado para o qual não se tem perdão. É melhor assumir a deficiência moral que a história nos legou e pensarmos em construir outra realidade, economizando hipocrisias.

Quilombos
Durante quase um século os negros e índios fugitivos dos grilhões alojavam-se na Serra da Barriga, em Pernambuco nos chamados quilombos. Certamente o reduto negro teve muitas lideranças. Zumbi, no entanto, aquele menino esperto abrigado por um padre que lhe ensinou latim, e lhe chamou de Francisco, fez ecoar o grito pela liberdade, como urro de desespero a espantar jaguares. Mas o Estado Brasileiro agiu através de mercenários, sendo Domingos Jorge Velho, o mais sanguinário assassino. Depois de várias derrotas avançou com canhões e um exército de nove mil homens. Foi o maior massacre da história brasileira, onde morreram milhares de cidadãos negros, além de devastação de casas, armazéns e escolas. Zumbi foi decapitado, mas a data de hoje celebra sua luta pela liberdade. Mesmo assim, movidos pelo calor desta centelha de esperança que restou nos últimos anos, a memória de tantas lutas sangrentas, tanto sacrifício, o herói Zumbi dos Palmares faz parte do catecismo de uma nova aurora social. O segmento mais aflito finalmente tem espaço na buscada pela igualdade e emancipação no Brasil.

Retoques:
* A mesa Um do Oasis adapta seu calendário de encontros por uma boa causa. No sábado, dia 23, o almoço será na sede da construtora de Ulisses Galileu Giacomini, no bairro Menino Deus.

* Saul Spinelli assume a Secretaria de Cidadania e Assistência do município, assinalando o ingresso do PSB no governo Luciano/Juliano. O Saul tem capacidade, coragem e vontade de fazer as coisas. Não é apenas a cara de guri, mas exibe excelente capacidade de organização comunitária.

* Passo Fundo deverá ter penitenciária feminina. A mulher presa precisa de atenção urgente. Não é apenas o espaço adequado. É preciso mudar a política de uma cultura que pensa presídio para homem...mesmo os femininos. Urge garantir que a mulher possa cumprir pena defendida da pressão de companheiros ligados ao tráfico. O crime organizado ameaça o filho bebê, para obrigar a mulher traficar até no presídio.

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