A situação fiscal do Brasil é hoje muito semelhante à da Grécia, avalia o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco. A diferença, segundo ele, é que, por ter a mais alta taxa básica de juros do mundo, o Brasil tem maior facilidade para rolar sua dívida que a média dos países que formam o chamado grupo dos PIIGS - Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia. Franco se baseia em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na avaliação de Franco, o endividamento de curto prazo é uma das explicações para que o Brasil mantenha uma taxa de juros tão elevada, bem acima da média mundial. "Os juros opressivamente altos que temos no Brasil têm a ver com esse custo de um sistema de rolagem de dívida que faz com que nós, brasileiros, carreguemos um montante de dívida do governo que não gostaríamos de carregar em condições normais", disse.
Franco explica que, para reduzir os juros, a situação fiscal do País deveria estar em condições muito melhores. "Aqui começamos a ver a importância dessa jabuticaba, os juros altos, que não entendemos bem", disse. O economista considera que os juros altos são o preço que o Brasil paga por não ter uma política de austeridade fiscal. "A dívida de hoje são os impostos de amanhã. A menos que usemos truques e bruxarias, os juros que pagamos hoje são o preço de não baixarmos os impostos e as despesas, empurrando o problema para as mãos daqueles que estão ausentes na discussão política: nossas futuras gerações", afirmou.
Para tentar corrigir e dar um rumo sólido para seu governo, a Presidenta Dilma, propôs aos líderes dos partidos aliados um pacto com as lideranças dos partidos de sua base aliada no Congresso Nacional para evitar a aprovação de novos cortes de impostos e novos gastos sem previsão orçamentária, verdadeiras "bombas fiscais" como propostas de emendas à Constituição que cria o piso salarial para servidores policiais, a que prorroga os benefícios para a Zona Franca de Manaus, além de um projeto com reajuste para o Judiciário.
O Ministro da Fazenda Guido Mantega disse aos parlamentares, disse aos parlamentares que há risco inflacionário e possibilidade de redução da nota de crédito do Brasil por agências internacionais, para convencê-los a assumir o pacto proposto por Dilma.
No entanto, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), insiste em votar o projeto que cria um piso nacional para agentes comunitários de saúde. A medida tem impacto anual de R$ 2,5 bilhões, segundo o governo. Com a proposta do pacto, o governo está preocupado em passar para o mercado e investidores estrangeiros a mensagem de que existe compromisso com a austeridade fiscal. Apesar da situação confortável no cenário político, onde a presidente Dilma Rousseff seria reeleita já no primeiro turno, segundo a última pesquisa de intenção de votos feita pelo Ibope, na economia os sinais são muito mais incertos.
O mercado tem carimbado o governo como "gastador" e que não demonstra exatamente esse compromisso com as contas públicas.Existe no Planalto a preocupação assumida em se desfazer essa imagem que pode influenciar negativamente o interesse de investidores em colocar dinheiro no País. Dilma começou seu movimento público na semana passada, ao conversar com deputados de partidos aliados. Alguns de seus conselheiros, como o ex-ministro Delfim Netto, defendem que ela vá além do discurso e assuma publicamente compromisso de que seu governo atingirá uma meta de superávit primário de 2% do PIB --neste ano, a meta oficial é de 2,3% do PIB.
A questão que se debate, é qual país teremos no campo fiscal, e econômico após a copa do mundo. Será que não comprometeremos o futuro das próximas gerações? Está na hora de o Governo lembrar que existem prioridades de fato, com o campo social, saúde, educação, falar menos e fazer mais. Acredito sim, que com uma elevação no superávit primário a inflação diminua e o Brasil poderá crescer de forma sustentada novamente.