OPINIÃO

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Está bem difícil escrever crônica hoje pelo fato de doer intensamente em nós todos a perda de Marcão Knack, vítima da violência do trânsito há três dias. Amigo das amizades, amigo da simplicidade, amigo do alto astral e da humildade, amigo da humanidade, amigo das horas de festas, nas derrotas e vitórias do nosso Grêmio, amigo da cervejada e do churrasco, das mil piadas. Cirurgião bucofacial prestigiado deixa-nos aos quarenta e cinco anos fazendo com que fiquemos estarrecidos, fragilizados e com medo, muito medo das estradas, de andar à noite. Sabe, Marcão, aquele churrasco que combinamos lá no Airton Marcondes ? Fica pra outra ocasião.

Estou lendo Rubem Alves ( Variações Sobre o Prazer – Editora Planeta) e despreendi da obra duas indagações: primeira – será que Deus fica feliz quando vê os seres humanos sofrendo? Porque os fiéis sempre oferecem sacrifícios ao Pai para terem seus pedidos contemplados. Será que Deus não aceitaria uma música, uma poesia? Por que quereria meu sangue? Coisas de Deus certamente são diferentes de coisas dos homens. Segunda – se eu tiver apenas um ano a mais de vida do que abriria mão, quais são as coisas realmente essenciais que tenho que viver? De que firulas ou enfeites que compõem a minha vida poderia dispensar? Provavelmente ouviria somente as músicas que gosto, veria os filmes que me marcaram, conviveria com as pessoas que admiro, leria meus autores preferidos e somente assistiria os jogos de meu time. Viver o bem-bom e deletar os demais.

Estou relendo Heleno (Marco Antônio Neves – editora Zahar) sobre o grande jogador de futebol do Botafogo que viveu entre os anos 30 e 50. Bonito, apessoado, fino, culto, elegante, poliglota e também indisciplinado goleador. Viveu junto a João Saldanha (cronista esportivo e técnico da seleção), a Sandro Moreira (cronista esportivo), a Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta – do Febeapá – festival de besteira que assolam o país) e a Nilton Santos. Seu classe, cabelo com gel e sorriso arrebatador lembram outro mineiro, Juscelino, o peixe-vivo, visionário presidente que derrotava os mais fervorosos adversários pela simpatia e pela firmeza do aperto de mãos. Morreu só, abandonado até pela sua turma de amigos – O clube dos Cafajestes. Morreu louco aos 39 anos, em razão de neurossífilis diagnosticada tardiamente. Dessa história toda me decidi, minha torcida no Rio vai para o Botafogo, a estrela solitária, de Garrincha, Didi, Nilton Santos e Heleno de Freitas. Eu, agora na torcida, é...tem coisas que só acontecem no Botafogo.

Fiz uma proposta aos meus familiares. A partir da absoluta incerteza do tempo ainda disponível para viver propus que a partir de já todos lá em casa daremos uma máquina para o excelente ambiente, todos os dias. Faremos vigilância, ficaremos atentos, não desistiremos da ideia de sermos absolutamente felizes enquanto convivermos. Se der certo quem sabe a gente não contamina o vizinho, os vizinhos, os companheiros de trabalho e até os desafetos? Engraçada é a vida, precisei ficar velho para me tornar um menino e buscar da vida as coisas mais simples.

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