Mandela contra o ódio
É de se duvidar que todos os chefes de estado presentes às cerimônias do funeral de Mandela tenham colaborado na luta contra o apartheid na América do Sul. Lá, a civilização negra e originária teve que lutar até a morte de seus líderes, para chegar a uma situação de igualdade legal perante a elite inglesa que assumiu durante longos anos o comando da África do Sul. Por isso é preciso dizer que, nos movimentos iniciais e durante a maior parte da luta, sangrenta ou não, os africanos estiveram sozinhos. Nem o sacrifício cruento de Steve Bantu Biko, torturado e assassinado pelo governo sul-africano, nem as lutas do povo nas ruas e a solidariedade do bispo Desmond Tutu, alcançariam o momento de liberdade, se não houvesse a figura de Nelson Mandela. Um pensador humanista que se imolou numa prisão – tudo pela liberdade. De sua convicção e grande força telúrica fez a esteira de luta por igualdade e liberdade. Sua vida e morte transcendem os umbrais da história e o projetam a um patamar legendário. Há algo espiritual muito forte destinado a inspirar muitas gerações da humanidade, negros e brancos e de todos os matizes. Ensinou-nos que é possível ser honesto, forte e honrado, ainda que abandonado pelas castas que não compreendam sua causa de inelutável valor sociológico. Por isso é inabalável seu prestígio, que felizmente veio ofuscar tanta mesquinharia que viceja num século que soma equívocos de ódio e violência.
Laços de raiz
Houve momento de debate na corte das Nações Unidas, em que Mandela preso apontava caminhos de lutas a um grupo liderado por Steve Biko, negro de alto valor intelectual. Na tribuna viu representante de vários estados omitirem-se perante a causa africana de liberdade. Antes de mostrar raiva, mostrou saber ilustrando sua fala de profunda decepção. “Pariunt montes, nascetur ridiculus mus” (as montanhas entram em trabalho de parto, mas nasce um ridículo rato). Com o provérbio latino, bradou de forma incisiva o lamento de uma nação ferida e decepcionada pela prepotência colonizadora. Denunciou a omissão dos intelectuais da época. Chefes de estado e eminentes paladinos da democracia moderna retornaram a seus países, marcados pela atuação firme dos sul africanos, que haviam mostrado comovedor espírito de luta e sagacidade cultural. O mundo entendeu que o grupo africano lutava pelo fim do apartheid, com inteligência e força de raiz.
Uma vida
Nelson Mandela é o fenômeno que brotou da própria terra para promover a salvação e libertação de sua gente tão injustamente ofendida. Em 1944 fundou a liga do CNA (Congresso Nacional Africano). Foi perseguido e preso, mas em 64, condenado à prisão perpétua (por contrariar o regime racista), voltou a estudar formando-se em direito em Robben Island. Em maio de 1994 assume como primeiro presidente negro da África do Sul, anunciando fraternidade e zelando pala paz. Minha nossa! Quem vive com tanta dedicação, merece um lugar na memória das esperanças humanas, ou pela fé inspiradora, quando o Espírito Santo escolhe alguém para falar aos homens e transmitir mensagens tão verdadeiras e profundas. Até a morte fica pequena quando falece um ser humano especial e de tamanha grandeza.
Retoques:
* Desde Caim e Abel, a humanidade tem uma história de crimes. Por esses dias, no entanto, surge de modo espantoso o estado de hediondez da criminalidade. A covardia parece que se tornou quadro, moldura de moda nas famílias, nos estádios. Espancando pessoas num estádio de futebol, com a vítima caída ao chão! Não venham dizer que estamos em tempos modernos!
* Vê-se que está mantida uma preocupação básica para Passo Fundo. A UPF estuda de planejamento para estações de tratamento visando aos próximos 20 anos. Isto a comunidade deve cobrar!
* Como esperado, o recital do Coral Ricordi D’Itália foi o grande espetáculo na sexta-feira. É preciso mencionar a divina apresentação dos instrumentistas já citados, mas também a surpresa primorosa da violinista Vivian dos Reis, do gaiteiro Davi Reginato, do Rodrigo Rosa além da presença cênica da Isabela de Cesaro e Enzo Wissheimer.